Apenas um lugar para a gente pensar junto...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Aprendendo com os Reis Magos


Examinando as Escrituras encontramos a seguinte narração quanto à visita dos Reis Magos ao menino Jesus, por ocasião de seu nascimento:
"1 E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, 2 Dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo."

Enquanto examinando a mídia em geral encontramos a seguinte narrativa em relação ao Natal:
"1. Natal gordo
Segundo especialistas econômicos nacionais as vendas deste natal devem superar o ano anterior em cerca de 20% causando um equilíbrio econômico
em comparação aos anos anteriores, e assim o comércio se preparará para o Natal mais gordo dos ultimos 10 anos, com mais de 100 bilhões de reais sendo aportados na economia nacional através dos pagamento do 13º salário e da oferta de crédito aos consumidores. As grandes lojas e magazines já aumentaram seus pedidos em 20%, e as maiores encomendas são por emetrodomésticos, pelos eletrônicos e itens de informática, especialmente o notebook, que deve ser a grande febre deste Natal, apostam os lojistas.
2. Em 2009 as vendas natalinas deverão ser 30% maiores que em 2008, alcançando 1,63 bilhão de reais."

Daí surgem perguntas inevitáveis: 1) Estamos nos referindo ao evento citado acima das Sagradas Escrituras? 2) Será que um marciano nos visitando conseguiria associar a data referida aos eventos e expectativas comerciais que a precedem? Creio que alguma coisa não está encaixando.
A narrativa dos Reis Magos é única na Bíblia. Só Mateus a faz. Poucos detalhes nos chegaram e a maioria deles é fruto da tradição cristã. Por exemplo, não sabemos quantos personagens eram ou mesmo se eram reis. Fala-se em três, numa possível alusão ao filhos de Noé (Sem, Cão e Jafé), talvez para englobar todas as raças humanas que daí vieram. Também lhe foram dados nomes: Melquior, Gaspar e Baltazar, que corresponderiam aos reis da Pérsia, Índia e Arábia, respectivamente, ainda na mesma intenção de englobar toda a Terra conhecida, que teria ido ao encontro de Jesus.
Contudo, qual teria sido a intenção do evangelista ao detalhar essa história?
Tenho certeza que pra ele foi importante mencionar uma estrela que os guiava até o local onde estava Jesus para que lá pudessem adorá-lo. Hoje me pergunto qual dos símbolos natalinos nos guiam: um velho gordo? um pinheiro?... Outro dado importante é para onde nos guiam. Ao shopping? uma liquidação?... E para adorar o quê?
Os magos levaram presentes: ouro, incenso e mirra, que simbolizavam a realeza, a divindade e a humanidade do menino que nascera. Mas o que significa ou simboliza o nosso Natal hoje? Qual presente entregamos ao "recém-nascido"?

Sem dúvida já não falamos do mesmo evento. Este não é mais o Natal do Nosso Senhor Jesus!
E se o natal já não representa o nascimento de Cristo. Se os símbolos atuais não nos guiam mais a Deus. Se os presentes não são mais uma manisfestação de reconhecimento ao papel salvador que teve. Se em nada agora há pistas de adoração a ele, a quem deve ser? Não é de se estranhar que a frase dita pelas miríades celestiais por ocasião de seu nascimento esteja tão longe da realidade atual (Lc 2:13,14):
"13 Então, de repente, apareceu junto ao anjo grande multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: 14 Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens de boa vontade. "
Em um mundo sem Deus, uma existência sem paz!

Tenho a consciência, e lamento por isso, que mudar o mundo e o seu “natal” com seus valores e sua cultura fútil e consumista é impossível a um só, mas o nosso natal, o meu e o seu, nossa comemoração do aniversário de nascimento de Cristo pode e deve ser mudado, tendo por guia o modelo dos Reis Magos.
Minha oração é que Deus nos ajude a resgatar na nossa história os reais valores, o verdadeiro significado e a suprema importância do nascimento de nosso Salvador, como muito mais do que uma ocasião onde o comércio consegue recuperar seu ano de pífio faturamento ou concretizamos nossos sonhos de consumo, pela compreensão do apoteótico início de uma grande história de amor de Deus por nós, culminando na morte de seu Filho para nossa salvação.

Feliz Natal de verdade!!!!

sábado, 21 de novembro de 2009

Discurso de uma atéia das Religiões

Fui educada num lar religioso. Desde o princípio sempre me ensinaram a crer em uma divindade. Associaram a ela a minha vida: minha paz, felicidade, saúde, segurança... tudo enfim.
Aos poucos fui crescendo e dissociando os fatos da vida à existência do Sagrado. Já não podia acreditar porque outros acreditavam. Fiz minha busca pessoal. Peregrinei entre muitas religiões e algo me despertou a atenção: como pretensa re-ligação ao Sobrenatural, a religião se perde nas manifestações que em nada representam essa tentativa.
Um dia, enamorei-me do Islamismo. Sua valorização cultural é primaz. A forma como surgiu para unificação de um povo merece elogios. Mas, não entendi uma Jirad, o terrorismo, o massacre contra aqueles que não são seus pares; a supervalorização masculina em detrimento das mulheres. E tudo sob a aprovação de Alá.
Em outro momento o budismo também me encantou. Os princípios ensinados pelos monges são belíssimos. Seu silêncio, seus cantos monossilábicos... O caminho do meio como o mais harmonioso e equilibrado e que deve sempre ser buscado. Mas não entendi a fuga da realidade na meditação em mosteiros tão longínquos. O carma que castiga àquele que nem sabe pelo que está expiando; e uma divindade impessoal e que não ouve aos meus apelos se eu não fizer por onde.
Também já me fascinei com o hinduísmo. Suas cores, suas nuanças, seus aromas e todo o seu misticismo atraem a todo aquele que se inebria com os elementos que retratem o sobrenatural. Mas não entendi os seus milhões de deuses; a preservação de um grupo de pessoas “especiais” na mesma medida do desprezo a outros; e a convivência da bomba atômica e de tantos nobéis com a fome e a extrema pobreza.
Ouvi ainda falar das manifestações afro-religiosas com seus rituais e danças, mas não entendi sua interação com o mal, seus sacrifícios e suas oblações; ou ainda do Espiritismo, com sua ênfase a boas obras, mas me recusei a entender as inúmeras reencarnações pra um dia se chegar ao Bem supremo.
Por último, busquei a religião Cristã. Um deus barbudo, de vestes brancas, que me leva para o céu se eu for boazinha a mim foi exibido. Um deus de recompensa pelos bons atos; de rezas e de promessas; de dias santos e de esmolas. Mas, não entendi as cruzadas; o fundamentalismo que discrimina e mata; a inquisição que mandou tantos à fogueira; a intolerância dogmática aos que estão marginalizados; o legalismo que separa e oblitera a comunhão. Não entendi também a crueldade das nações ricas ditas cristãs na indiferença as mais pobres e na preservação conveniente do abismo social que há entre elas. Tudo isso em nome desse deus.
Assim, desisti da religião.
Hoje sei que mais que religião o mundo precisa de amor. Um amor que faça a diferença; que se escandalize com a injustiça; que escute o clamor do desvalido; que lute a causa do aflito; que una os diferentes; que supere a distância dos credos; que transforme o substantivo num verbo e que ande de mãos dadas com a paz.
Hoje não quero religião. Conheci alguém que viveu assim, conheci Jesus. Quero, então, fazer da atitude dEle, que deu a vida por mim, a razão pra que eu continue a viver. Fiz minha opção: sou “atéia das religiões”; mas também uma amante da vida e uma sonhadora de um mundo que pode ser bem melhor.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Manias Espirituais


Gostaria de saber como surgiram certas "manias" evangélicas. Gostaria também de saber porque elas se alastram como fogo em pólvora e tomam conta das igrejas, sem o mínimo de espírito crítico apenas pelo ar de sacralidade. Vejamos:
1. O que quer dizer a alcunha "música do mundo" dada a algumas categorias musicais? Isso porque, primeiro, tudo que qualquer pessoa faça, independente de ser de igreja ou não, tem como palco de criação este mundo, ou seja, esse planeta, ou será que há algo feito noutro mundo ou noutra dimensão espacial? Certamente não se foi feito por seres bípedes da espécie Homo sapiens, afinal, que eu saiba, não há assombrações compositoras. Contudo, por outro lado, há sim músicas que louvam a Deus enquanto outras não. E qual o critério para essa divisão? É só analisar a intenção por trás de cada letra. Mas que fique claro que não é preciso que tenha o nome de Deus ou que fale em "evangeliquês" para que seja de louvor. A própria Bíblia é uma prova disso em sua simplicidade. O livro de Ester atesta isso. Ele não cita o nome de Deus, mas é sagrado. Se uma música enaltece a alegria, o amor, a natureza, a vida, sem deturpar o sentido da criação ou diminuir a dignidade da nossa existência, foi feita no mundo mas não é mundana, portanto louva a Deus, que é o Pai de toda a Criação.
2. Também não entendo porque há "coisas ditas espirituais" e outras tantas que não são, porque, ao meu modo de ver, se todos os que se converteram são templo do Espírito Santo, habitação do Eterno, tudo o que está relacionado com esses tem conotação espiritual, porque feitas em Deus, independente do quê e de onde se está. A confusão feita é fruto da percepção errônea de que há coisas mais santas de serem feitas que outras, o que é uma bobagem. Por exemplo: vejo que alguns fazem distinção entre varrer uma casa e varrer a igreja, como se a primeira atividade não fosse espiritual, enquanto a segunda é. No caso, o que santificou a ação foi o local? E há algum lugar onde Deus não possa estar? O máximo que pode haver são coisas entendidas como eternas e outras como temporais, se considerarmos a perenidade delas, já que umas têm alcance além dessa vida, mas tudo deve ser entendido como espiritual, até quando distantes da igreja.
3. Não entendo também distinções durante o culto de celebração entre o momento de adoração e o de louvor, quando se toca mais rápido ou mais lento, porque essas duas palavras querem dizer uma coisa só. Adora-se e louva-se a Deus não apenas com alguns instrumentos ou apenas com alguns ritmos. O louvor a Deus tem mais a ver conosco do que com esses expedientes. Também, restringi-los a apenas alguns momentos da celebração é um disparate. Todo o culto é feito para louvor e adoração ao Senhor. Por isso, o convite que se faz ao final da celebração para encerrar o culto está errado, porque este deve fazer parte da nossa vida como um todo, afinal fomos criados para a glória de Deus e isso não se resume a apenas algumas poucas horas do domingo. Puro cacoete!
Só mais uma palavra. Quando em Marcos 12:30 diz: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento", entendo que até nas nossas manias precisamos usar o discernimento. Não podemos simplesmente sair reproduzindo algo de forma indiscriminada, por mais aparência de santidade que tenha. Jesus, em sua infinita sabedoria, não nos chama a abraçar a fé sob a condição de suicídio intelectual.
Se usássemos mais essa faculdade, talvez não fôssemos vistos por tantos como pessoas esquisitas e cheias de mania.






quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cansei

Cansei dos cristos pregados nas paredes; dos cristos estampados nas camisetas sem significado prático.
Cansei dos cristos dos slogans midiáticos; dos cristos das frases ditas em novidades antigas.
Cansei dos cristos vendidos em igrejas insossas; dos cristos acesos de lugares auto-iluminados.
Cansei dos cristos usados para dar ou retirar.
Cansei...

Tenho saudade de um outro Cristo.
Do que foi pregado na cruz por muitos que não são poucos... mas, por todos.
Daquele que o que teve estampado foi o seu sangue em lugar do meu;
Do Cristo do slogan: "Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum", meu Rei, nosso Rei, que reina de fato.
Sinto a falta do Cristo da igreja de templos humanos, não manipulado, sem paredes que o limitem; daquele que é a própria Luz.
Por onde anda esse Cristo?

Certamente ausente de muitas ditas celebrações;
Distante de muitos altares e púlpitos consagrados;
Faltando a muitas reuniões santas e longe de muitas adorações.
Talvez ele esteja mais perto de personagens profanas (novos publicanos e meretrizes), ou de lugares impuros, tocando e sendo tocado por outros leprosos, cegos e maltrapilhos e sendo ovacionado por pedras que se tornaram seus filhos.

Quisera muitos igrejas pudessem vê-lo de novo. Talvez assim não houvesse mais tanta gente cansada e com saudades.



segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Meu Credo


"Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. Pai de todos sem exclusivismos: dos puros e impuros; dos santos e não santos, porque é fonte primeira de toda forma de vida, que não pode ser gerada de outra maneira.
Creio em Jesus Cristo, seu Filho Unigênito, nosso Senhor. Que ama a todos, sem distinção. Filho do Pai, portanto, também, pela nossa submissão e obediência ao mesmo Pai, nosso irmão, irmã e mãe.
Creio que Ele foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao mundo dos mortos, ressuscitou no terceiro dia, subiu ao céu e está sentado a direita de Deus Pai, Todo-Poderoso, de onde virá para julgar os vivos e os mortos, segundo seu senhorio em nossa vida e pela realização de nossas obras, não exclusivamente na igreja institucional ou entre irmãos da mesma denominação, mas no mundo, que é a seara maior, para onde todos nós fomos enviados e onde devemos ser sal e luz.
Creio no Espirito Santo, que habita em nós, tornando-se verdadeiramente o Deus-conosco.
Creio na santa Igreja cristã invisível, que extrapola as paredes denominacionais, ama e aceita os diferentes sem discriminá-los mesmo que não aprove seu comportamento; não separa o joio do trigo porque não é sua função; se deixa tocar, caminha junto e perdoa setenta vezes sete, até a quem não lhe pede perdão.
Creio na comunhão dos santos, que têm em comum a aceitação de Deus em Cristo, sua justificação e acolhida amorosa. Que, como filhos pródigos que retornam ao Lar, têm, todos juntos, noção de sua pequenez e igualdade perante Deus. Igualmente alvos de misericórdia, portanto, sem distinção hierárquica ou de patente. Simples irmãos queridos em Deus.
Creio na remissão dos pecados, na inculpabilidade em Deus pelos méritos de Cristo e no resgate de nossa dignidade; na ressurreição do corpo e na vida eterna que começa agora pela implantação dos valores do Reino a partir de nós.
Amém."

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Os publicanos e meretrizes de hoje

"A coisa absolutamente imperdoável [em Jesus] não era a preocupação com os enfermos, os aleijados, os leprosos, os possessos... nem mesmo sua opção pelas pessoas pobres e humildes. O verdadeiro problema é que ele se envolveu com fracassados morais, com pessoas obviamente incrédulas e imorais: pessoas moral e politicamente suspeitas, muitas delas tipos dúbios, obscuros, abandonados, sem esperança, à margem de toda a sociedade, como travestis, bicheiros, trambiqueiros, bêbados inveterados, garotas de programa... (acréscimo meu). Este era o verdadeiro escândalo. Será que ele tinha mesmo que ir tão longe? Esta atitude, na prática, é notadamente distinta do comportamento geral das pessoas religiosas." (Por que ainda ser um cristão hoje? - Hans Küng).


De que lado estamos hoje? Acompanhando os ensinamentos de Jesus e imitando-o ou torcendo a cara e mudando de calçada ao nos depararmos com esses tipos?

Sou uma ET

De uns tempos para cá tenho me sentido uma ET no meio evangélico. Isso se deve a uma constante sensação de inadequação, como se lugar nenhum me coubesse. Mas como se sentir bem entre tantos limites e imposições crueis?
Já pensei em deixar de frequentá-la e só não fiz isso porque fui levada a crer que ali há também muitos outros inconformados como eu, que ainda teimam em acreditar, mas reconheço que essa pueril obstinação provoca muitas reações desagradáveis.
Sou uma leitora assídua da Bíblia. Tenho por hábito há anos a leitura devocional daquele livro nas primeiras horas da manhã, mas tenho a impressão que isso não tem provocado em mim algo muito bom, porque quanto mais a leio, mais inconformada fico com os moldes eclesiásticos atuais pelo choque que há entre o que medito nas Escrituras e o que ouço nos sermões.
Sinceramente, como acreditar em um Deus de tantas "senões"? Nos púlpitos escutamos as condições para conseguirmos os benefícios divinos; para sermos salvos e/ou para permanecermos com a salvação; para não sermos castigados; para não escandalizarmos o Espírito Santo; para não nos contaminarmos com o mundo... Aí pergunto: de qual Deus estamos falando? Qual a Bíblia que andam lendo? Como conciliar essas exigências com a Boa Nova da graça? Como combinar esses condicionamentos à liberdade responsável ensinada por Cristo?
Por isso, questiono quem é mais ET. Se quem tenta se infiltrar na sociedade, tentando não chamar a atenção como caricaturas extravagantes de um povo separado por Deus ou se criaturas autômatas e esdrúxulas que, pela ausência de uma leitura crítica da realidade e da Bíblia, fazem questão de viver "longe do mundo"?
Como testemunhas (At 1) sei da responsabilidade que devemos ter para os outros, mas como criaturas alcançadas pelo amor e pela graça de Deus sei também que testemunho maior é dado quando conseguimos ser notados não por esquisitices, mas por um jeito leve de viver.
Pensando bem, vou deixar de me incomodar de ser uma extra-terrestre se isso implica uma vida diferente daquela imposta por muitas pregações infantilizadas, afinal, essa igreja está da terra demais para o meu gosto.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Toda unanimidade é burra



Lendo com um pouco mais de atenção o discurso de Estevão no capítulo 7 de Atos observa-se alguns pontos que são dignos de nota. Ele afirmou categoricamente que
1. Moisés não foi o verdadeiro príncipe e libertador do povo judeu (v.35);
2. Moisés não falou com Deus face a face, mas sim com seu anjo (v.38);
3. O Templo de Jerusalém não era a verdadeira habitação de Deus (vv. 48, 49);
4. Os judeus de seu tempo eram tão obstinados e resistentes a Deus quanto os antigos (vv. 51, 52);
Por isso a reação furiosa dos seus ouvintes (v.54), a ponto de o privarem de um julgamento justo e o matarem lapidado em um ato de linchamento cruel.
O interessante é que o que Estevão falou era apenas um reflexo de como os judeus da dispersão (helenistas) compreendiam a história de Israel. Ou seja, não havia um judaísmo único e hegemônico naquela época, mas sim vários. Isso sem citar as diferenças entre as teologias dos fariseus, saduceus, essênios, zelotas, etc.
Da mesma forma se percebe o cristianismo incipiente da Igreja Primitiva, exemplificado pelas inúmeras controvérsias entre os ensinamentos de Paulo e o de Pedro e Tiago, parcialmente resolvidas em um concílio do capítulo 15.
Portanto, é ingênuo querer um único cristianismo atualmente. A Heterogeneidade de pensamentos é um dos resultados do livre pensar e completamente saudável. Nelson Rodrigues acertou quando afirmou que toda unanimidade é burra, porque expressa uma visão caolha de qualquer ponto. Dessa forma, o que precisamos aprender é a conviver com os diferentes sem nos sentirmos ameaçados. Tolerância talvez seja hoje um dos mais fortes sinais de maturidade e verdadeiro espírito cristão.
Citando Voltaire, endosso suas palavras em relação aos que pensam diferente: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las".
Da imposição aos outros de uma única maneira de pensar o mundo está cheio, daí o crescimento do fanatismo religioso não apenas no Oriente Médio.
Se não abrirmos ao outro um canal de comunicação, sem a franca consciência de que estamos sempre certos, estaremos fadados a cometer os mesmos erros que levaram a morte do primeiro mártir cristão e a, talvez até, impedir nosso próprio crescimento, fazendo calar a voz do Espírito em nós.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Atletismo Bíblico



É incrível o malabarismo que fazemos com alguns textos bíblicos, tirando-os do seu contexto para justificarmos nossa "evangelização".

O texto de Fp 4:13: "tudo posso naquele que me fortalece" é muito usado para afirmar nossos super-poderes espirituais, contudo, Paulo, na carta, acabara de mostrar que sabe passar inclusive por momentos de privações porque sua força está em Deus. Não há indicação nenhuma da afirmação que é feita atualmente, dando a entender que conseguimos tudo o que queremos.

O texto de Ap 3:20: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo" não foi feita em um contexto de atrair prosélitos, como teimamos em afirmar aos descrentes hoje, mas sim à igreja de Laodicéia, o que surpreende por mostrar a ausência de Cristo no coração de muitos crentes.

Outro texto desvirtuado de seu sentido original também é Rm 8:37 quando afirma: "Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores". No caso, exaltamos o "vencedores", mas ignoramos o pronome demonstrativo que determina o sentido do texto, que é um contexto de entrega à morte diária, distanciando muito da idéia de campeões da fé.

Outro exemplo típico é o de uma frase comum encontrada em muitos adesivos de carro: "Deus é fiel". Contudo, a afirmação carece de um objeto: a quem Deus é fiel? Em Ez 36: 32 o Senhor declara: "Não é por amor de vós, fique bem entendido, que eu faço isto, diz o SENHOR Deus", o que mostra que a fidelidade de Deus não é à a, b ou c, mas ao seu nome, estabelecendo uma diferença bem grande entre aquilo que é feito como "propaganda" de Deus. E assim por diante.

Não é preciso ser doutor em Bíblia para citar seus textos sem ideologias subliminares, mas certamente é necessário sermos mais honestos para não afirmarmos qualquer coisa além do que está escrito, mesmo que a intenção seja a de atrair pessoas para nossas igrejas. O Reino não precisa disso. O primor pela qualidade é mais importante que o da quantidade.

Somente com uma pregação verdadeira é que a igreja do Senhor vai ter a ganhar.

domingo, 6 de setembro de 2009

Como o mundo nos ouve

Tenho a impressão que com o testemunho de alguns grupos evangélicos, nossa evangelização se tornou motivo de chacota, pilhéria. Podemos até falar coisas coerentes, mas como nossas ações falam mais alto, pouca coisa é crível. Assistindo a esse vídeo, foi impossível, de forma jocosa, não associá-lo à forma como nos ouvem. Para muitos, nosso discurso é vazio de significado, porque não vem acompanhado de sentido prático. Convido-o(a) a assistí-lo para ver se concorda comigo ou não.
http://www.youtube.com/watch?v=TgITfB3JQdg

sábado, 5 de setembro de 2009

Complicando a Bíblia

Para quem se queixa da dificuldade de leitura da Bíblia:


1 Pascia Moisés a grei de Jetro, o genitor de sua consorte, eclesiástico de Midiã; e, induzindo o rebanho ovino para o lado ocidental do espaço ermo e desabitado, de precipitações atmosféricas escassas ou irregulares, chegou a parte de uma superfície de Deus que se eleva em relação ao espaço circundante, a Horebe.
2 Revelou-se-lhe o mensageiro celestial do SENHOR numa mistura gasosa e incandescente, acompanhada de luz e energia térmica, que se forma durante uma combustão, no meio de um arbusto silvestre; Moisés mirou, e eis que ele conflagrava-se espontaneamente e não se transformava em fumaça e cinza. (Exodo 3:1,2)

“11 Pronunciou-se-lhe o Todo Poderoso: Arreda e põe-te neste monte em presença do ente infinito, eterno, sobrenatural e existente por si só; causa necessária e fim último de tudo que existe. Eis que transpunha o SENHOR; e uma grande e forte massa de ar atmosférico em movimento natural fendia os montes e despedaçava as penhas diante do SENHOR, porém o SENHOR não estava nele; depois da aragem, um sismo estrondoso, mas o SENHOR não estava no abalo terrestre; 12 depois deste, um fenômeno que consiste no desprendimento de calor e luz produzidos pela combustão de um corpo, mas o SENHOR não estava nele; e, depois deste último, um cicio pacífico e afetuoso.” (1 Reis 19:11-12 RA)

“ E calhou que, enquanto ele deprecava, a exterioridade do seu expressão facial se transfigurou e seus indumentos resplandeceram de brancura.” (Lucas 9:29 RA)

“26 Destarte, se vos articularem: Eis que ele está no bioma de baixa diversidade, que se estabelece em região com pluviosidade muito baixa ou irregular!, não vades. Ou: Ei-lo no interior do edifício de formatos e tamanhos variados, geralmente de um ou dois andares, quase sempre destinado à habitação!, não deis crédito. 27 Porquanto, assim como o clarão resultante de descarga elétrica que se produz entre duas nuvens ou entre uma nuvem e a terra sai do oriente e se manifesta até no ocidente, assim há de ser a parousia do Descendente do sexo masculino do Homem.” (Mateus 24:26-27 RA)

Então veja: não há nada tão complicado que não se pode complicar mais. Contudo, acredito que mesmo com a linguagem mais prolixa, o texto ainda ficou compreensível, portanto, a questão está mais para uma disposição, ou não, em ler do que no texto em si. Dessa forma, vale a fórmula: "quando a gente quer, dá-se um jeito, quando não quer, arranja-se uma desculpa."




sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Quem sou eu? (parte II)


Resposta do enigma do texto anterior: Uma bisteca bovina digerida.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

QUEM SOU EU?


Quando dei por mim já estava lá. O caos me acolheu. Não havia mais nada que lembrasse quem eu já fui.Subitamente senti-me triturada, e levada, em um ritmo frenético, ao encontro do nada. Não havia o que fazer. A cada minuto apenas me sentia menor. E me redimi à minha condição de desamparo.
Mais um pouco e fui sendo levada. O desconhecido me aguardava. Comprimida como fiquei mal tinha tempo de raciocinar. E vi-me imobilizada pela dor, em um mar de destruição.
O embalar das ondas dilacerava-me, pressionada de todos os lados. Tinha apenas a sensação da perda da minha identidade. Impactada pelas águas, reduzía-me. A pequenez me feria. Então fui levada de novo.
Em um ambiente sufocante senti meu fim. O que fui passou. Diluí-me completamente. Perdi minha essência. Deixei de existir.
Contudo, encontrei meu destino. Melhor assim que o fim de alguns outros pares meus. Pelo menos passei a fazer parte de algo maior. É fato: não sou mais eu, mas tornei-me melhor. A dor transformou-me. E agora sou parte de lutas, de idéias, de vida.
Nasci ruminando, mas agora, pós-digerida, faço parte de um corpo humano.

Quem sou eu?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Os Samaritanos de hoje

A parábola do Bom Samaritano é uma boa pista de como devemos gastar nossa vida cristã. Nada é mais importante do que o outro.
Nas palavras de Jesus, no meio do caminho havia um homem abatido, violentado, vítima de um assalto. Por ele passam três pessoas. As duas primeiras, um sacerdote e um levita, figuras religiosas, passam, cada uma a seu tempo, sem perceberem alguém mais além deles mesmos. A terceira pessoa, de religião "errada", mestiça, marginalizada, ao cruzar com o ferido é o único que o percebe, pára e faz alguma coisa. Por isso mesmo é o único a receber elogios de Jesus.
Provavelmente os dois religiosos tivessem na mente alguma preocupação eclesiástica, o que não se constitui necessariamente em algo errado. Surge um problema quando se torna prioridade, vindo a determinar a maneira de encarar a vida. Horários, prazos, preces, ritos litúrgicos... preocupações típicas de quem está em um trabalho de igreja, podem exercer um enorme fascínio a ponto de obliterar o mais importante: nosso papel na vida do outro.
A inclusão de um samaritano na parábola teve como objetivo apontar essa aberração. O socorro veio justamente de alguém sem qualificação, mas que não tinha essas prioridades, por isso podia "perder tempo" com alguém.
Talvez isso explique a participação dos profetas anônimos em tantas questões socias e políticas atualmente, escancarando a injustiça e a exploração, enquanto a voz do povo de Deus permanece calada. Homens e mulheres que, se passados pelo nosso cadinho religioso, jamais "ousariam" ter a voz em nossas igrejas, no entanto, fora delas, fazem o que não fazemos.
São bem vindos então, certamente não nos nossos arraiais santos, mas onde são necessários e onde deveríamos estar: no mundo.
Se olhássemos menos para nossos programas, prazos, ritos... possivelmente perceberíamos que, enquanto os "samaritanos" de hoje fazem alguma coisa por quem precisa, passamos a largo, ocultando o Evangelho em nossos antros, enquanto aqueles recebem os elogios do Nosso Mestre.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Os cristãos e o "biblicismo"












34 Mestre, qual é o grande mandamento na lei?
35 E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
36 Este é o primeiro e grande mandamento.
37 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
38 Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.
(Mt 22: 34-38)


Nessa narrativa Jesus foi bastante contundente: todas as Escrituras se resumiam a estas duas ordenanças. Mas o que Ele queria nos ensinar com isso?
Muito! Que esses são os princípios básicos que deveriam reger nosso comportamento. Que vivemos não para nós mesmos, mas para Deus e para o outro. Que se há dúvida em relação a alguma decisão, a alguma escolha, a alguma atitude, o crivo será dado a partir daqui, mesmo que em detrimento disso algumas situações estejam em jogo.
E foi isso que Jesus exemplificou com sua própria vida, quando abriu mão do sábado, ou dos rituais de pureza ou quando se envolveu com a escória da sociedade, comprando briga com a elite religiosa da época, que, com seu extremo zelo, ignorava a vida em função da devoção, vindo assim a pagar sua ousadia com seu próprio sangue.
No entanto, essas palavras permanecem atuais. Os tempos são outros, mas ainda temos dificuldades em fazer valer tais ordenanças. Na verdade acho que somos craques nisso: em complicar o que é simples, daí esse "biblicismo" exarcebado de alguns cristãos. E as coisas se repetem: só mudam os atores, mas as personagens são as mesmas.
Se compreendêssemos de fato as palavras de Jesus não precisaríamos - me atrevo a dizer - da Bíblia. Bastaria a cada dia, em cada momento, avaliarmos a intenção de nossas ações por esse duplo mandamento. E seríamos, então, talvez, não tão bons leitores das Escrituras, mas com certeza pessoas melhores, em um mundo mais justo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Religião se discute sim!


"Futebol, religião e política não se discute". Já ouvi essa frase inúmeras vezes, mas questiono qual a intenção de quem a usa. Será uma maneira de dizer que simplesmente não se interessa pela opinião alheia, ou uma forma velada de se esconder atrás das palavras, temendo descobrir que está errado, pondo em prova suas convicções, ou mesmo só o "papaguear" de uma frase estéril de um aparente esclarecimento?
Seja como for, entendo essa frase mais como uma ideologia bem própria da nossa época, principalmente no que diz respeito a Deus.
Nos tempos bíblicos, falar sobre religião, ou seja, falar sobre Deus, fazia parte do cotidiano das pessoas, porque tudo tinha explicação a partir dEle. Se chovia ou não, se a família era grande, se a economia estava bem, se a nação estava segura... enfim, tudo tinha Deus como fundamento intrínseco.
Hoje, acredito que fruto da própria "evolução" tecnológica, Deus não faz mais parte dos contextos do dia. Se o assunto é chuva a meteorologia tem a resposta - nem que seja atrasada; se a família não cresce, há opções artificiais de reprodução; se o assunto é economia provavelmente vai estar relacionado a algum plano de governo - ou a falta dele; e quanto a segurança da nação existem estratégias militares de defesa com esse propósito, por isso Deus se tornou um assunto secundário.
Pior pra nós. Hoje, Deus tem mais a ver com assunto de fanáticos religiosos alienados que com as respostas às questões existenciais próprias de qualquer ser humano, indepente da época em que viva. Excluímos Deus daqueles setores, mas também o eliminamos da nossa vida.
A tecnologia acelerou processos, facilitou o deslocamento, aproximou distâncias, mas não trouxe sentido à nossa existência, não nos fez melhores como gente, nem mais humanos, mais generosos. Onde está a evolução então?
Religião não apenas se discute, como sua discussão deveria ser constantemente estimulada. Não há respostas fora dela. Discussão não como forma de persuasão, proselitismo ou imposição fanática de uma religião sobre outra, e sim como uma maneira de encontrar solução aos nossos conflitos interiores.
Perdemos nós com essa visão departamentalizada da vida, como se fôssemos um conjunto de partes que mal estão coladas. Não há como nos fracionar em pedaços de interesses distintos. Somos um inteiro, portanto, Deus faz parte da gente.
Essa visão pobre dos tempos atuais é a prova da fragilidade de um sistema que, à custa de uma ideologia, faz a opção por nós, impedindo a construção do que há de mais valor ao ser humano, impondo-nos uma vida sem razão.

Um Deus "pouco ortodoxo" (parte II)

É surpreendente como um Deus imprevisível nos apavora. Isso porque lidar com algo que não segue roteiros predefinidos nos deixa sem o controle da situação, roubando o chão que pisamos. É muito mais fácil estabelecer limites, regras, etc, que deter o Imponderável. No entanto, muitas vezes só se percebe tardiamente que, como fumaça entre os dedos, manter Deus dentro de fronteiras é buscar o insucesso ou a frustração.
Contudo, isso é o que acontece na relação de muitos com Ele: teimam em aprisioná-lo nas páginas da Bíblia ou entre paredes institucionais ou acuá-lo a regras e preceitos devocionais de uma instável religiosidade. Pura quimera! Em tais casos, foi-se a glória de Deus.
Por outro lado, Deus é mais "previsível" que supõem algumas mentes mais exigentes. Ele está sempre a favor da vida em sua plenitude, mesmo que isso signifique "desviar-se" de muitos padrões rígidos devocionais - lição clara dada por Jesus.
Deus não tem religião, nem é religioso. Não segue catecismos nem credos humanos. Ele extrapola qualquer preceito. Não fosse assim não seria Deus. Mas o problema está justamente nisso: querer saber quem Ele é, desde que conhecimento seja poder. Cabe a nós nos redimir a pequenez que nós é permitida.
É pouco a sinceridade religiosa de intenções. Seguir a Deus é mais do que supõe nossa vã filosofia piedosa, para desespero de alguns. É deixar-se guiar por uma doce "imprevisibilidade" maior que nossa necessidade de compreensão. É, sim, estabelecer como meta a vida e a dignidade própria ou de outrem, como louvor à sua criação, e não escandalizar-se com Sua "irreverência" que permite colocar sempre a vida em primeiro lugar.

Ana Valéria

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Uma boa surpresa

Outro dia coloquei por brincadeira meu nome no google esperando encontrar apenas listas burocráticas, contudo me surpreendi ao ver uma poesia minha publicada no site do dragão do mar. É que mandei àquela instituição há algum tempo e descrendo que poderiam publicá-la, nunca fui conferir. Esse tipo de surpresa é bom ter.
Ei-la:

É DIVAGAR

É devagar, é devagar, devagar... Indo!
Pra que a pressa, se não se sabe o que se esperar?
Pra que a pressa, se só se leva o que se vive e não o que se pode comprar?

É devagar, é devagar, devagar... Indo!
Se tão rápido a Terra vive a girar,
E ao redor do sol bamboleia, sem se cansar.
Pra que a pressa se mesmo correndo tanto, mal saímos do lugar?

É devagar, é devagar, devagar... Indo!
Pra que a pressa, se no fim todos os meus movimentos devem contar...
Tanto quanto os daqueles que só viram a vida passar?

É devagar e a divagar... Indo.
Bem pensando, melhor do que correr é divagar...
Porque célere no meu pensamento, qualquer movimento me leva pra algum lugar;
E nestes devaneios, me pego pensando sem nunca parar... Só a divagar.

http://www.dragaodomar.org.br/index_new.php?pg=impre32

Um Deus "pouco ortodoxo"

É intrigante ver como nosso Deus não se adequa àquilo que foi estabelecido como regra.
Mesmo conhecendo suas normas e preceitos; seus inúmeros mandamentos e prescrições, Ele mesmo não se deixa moldar por padrões externos e religiosos quando o que está em jogo é a vida.
Esta manhã me deparei com o seguinte texto:"Na verdade, a maioria do povo, muitos de Efraim, de Manassés, de Issacar e Zebulon, não se tinham purificado; comeram a páscoa sem obedecer à Escritura. Mas Ezequias orou por eles dizendo: 'Que Iahweh na sua bondade, cubra o pecado de todos os que aplicaram o seu coração em buscar a Deus, a Iahweh, o Deus de seus pais, mesmo se não têm a pureza exigida para as coisas santas!' Iahweh ouviu Ezequias e conservou o povo são e salvo." (IICr 30:18-20). O que me levou a pensar.
Talvez o que aterrorize a muitos é que Deus é menos ortodoxo do que se poderia esperar. Para alguns isso é motivo de desequilíbrio já que, segundo esses mesmos, não se sabe exatamente o que esperar de um Deus que rompe suas próprias regras, ou seja, que se mostra um tanto quanto imprevisível.
Contudo, uma visão assim só retrata uma forma rígida de pensar: a da intolerância!
Quando o assunto envolve vida e dignidade, Deus é muito menos religioso do que se imagina. Foram palavras suas as de que prefere misericórdia ao sacrifício. Portanto, precisamos alargar nossos horizontes no que diz respeito à perspectiva que Deus tem da nossa vivência religiosa. Deus rompe sim padrões quando o que está em jogo é gente.
Se pra manter algo em nome de um status quo é necessário "passar por cima" da vida ou dignidade de pessoas, poderemos nos surpreender com o julgamento do Senhor que provavelmente terá mais misericódia e menos ortodoxia que muitos de nossos irmãos "mais piedosos".
Beijão no coração.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Já tive um sonho

“I have a dream...” Essas palavras eternizadas pelo Rev. Martin Luther King Jr. tornaram-se quase um símbolo à luta pela igualdade. Na época os Estados Unidos viviam um fervilhar de manifestações em função de questões raciais: seres humanos, todos de cor sanguínea igual, digladiavam-se pela cor diferente da pele. A “superioridade” étnica branca subjugava seus quase irmãos negros a ponto de lhes exporem a situações vexatórias públicas, plenamente convencidos de suas razões para isso. Contudo, esse fato lamentável, referendado inclusive legalmente, não foi único na história e jamais será uma situação isolada a envergonhar a raça humana. Episódios como esse foram por demais comuns a ponto de quase caracterizarem a humanidade: onde há gente, há sobrepujança de uns sobre outros. Caim e Abel que o digam. Não é preciso um esforço sobre-humano para trazer à memória situações onde grupos – algumas vezes até mesmo minoritários – tentando fazer prevalecer seus direitos – e convencidos de sua legitimidade – perseguiam e massacravam seus opositores no sentido de sua completa eliminação. As Cruzadas medievais, Santa Inquisição, Noite de São Bartolomeu na França, entre outros e, mais recentemente, o nazismo, Tutsis e Hutus em Uganda, o apartheid na África do Sul e a já referida luta pelos direitos iguais entre brancos e negros nos Estados Unidos... todos episódios que mancham a nossa humanidade em seu sentido estrito, quando lembramos que somos todos nós semelhantes e fraternalmente ligados por uma origem única. Porém, talvez algo de bom poderia ser tirado como lição de todos esses enfrentamentos: a braveza da resistência. É certo que muitos morreram, mas é igualmente certo afirmar que muitos desses deram tudo de si por algo que acreditavam. Morreram em batalha, ensinando-nos que não há vergonha em se lutar pelo prevalecimento da vida e da igualdade. Por pessoas como essas não há porque se ruborizar. Provavelmente o mundo não fosse digno delas. Nem sempre os que ganham são os verdadeiros vencedores.
Já sonhei com um mundo de iguais. Já ensinei a semelhança entre todas as pessoas. Já me vi como agente de transformação em busca da valorização da vida, por isso busquei ser educadora. Contudo parei de sonhar. Perdi a esperança. Hoje me vejo mais como um pássaro impedido de voar pela satisfação do ego de um caçador que furou seus olhos para tentar fazê-lo cantar a canção que mais lhe agrada. Já não há lirismo em minha melodia...
Não tenho mais direito de sonhar com um mundo melhor através da educação porque me vejo vítima da arbitrariedade de quem só pensa em dados. Não tenho mais o direito sequer de me queixar porque a “legitimidade” destes fez cessar meu fôlego. Levaram meu sonho, calaram minha voz, racionaram meu pão... Estivesse o Reverendo ainda hoje vivo veria que até os sonhos são emudecidos; deixados de sonhar.
Mais uma vez a história se repete e a humanidade perde pela imposição de quem se acha superior. Sucumbe assim a sociedade pelo cala-boca imposto aos educadores-sonhadores do Estado do Ceará.

Ana Valéria