Apenas um lugar para a gente pensar junto...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Protesto ao Gênero Humano

Percebi que não conheço o gênero humano.

Sou incapaz de prever a sordidez de seus atos e ainda me surpreendo quando me deparo com sua crueldade.
Não faço empenho em me enquadrar nesse seleto grupo que ocupa o topo da cadeia alimentar.
Não que me sinta melhor, mas porque não consigo ver com naturalidade o uso e desuso humano de seus pares.
De todos os defeitos que a raça humana possa ter considero o pior o de tornar alguém um meio para o alcance de algo que possa justificar suas intenções. Quem é seu fiel?
Como se consegue enganar sem com isso perder o senso de decência? Como se consegue levar as últimas conseqüências gestos friamente arquitetados, desconsiderando os prejuízos que possam decorrer disso? E ainda nos chamam civilizados...
Vejo "honestidade" em um cão quando toma de outro o osso para defender sua existência. Vejo "integridade" em um rato quando invade uma despensa alheia para garantir sua sobrevivência, mas não vejo humanidade em um bípede Homo sapiens que surrupia os sonhos de seu semelhante apenas em prol de si e por si mesmo.
Abro mão dessa noção do que nos torna iguais. Não quero ser convencida dessa "normalidade".
Abomino os conceitos gerais que nos tornaram menos que os bichos, ditos, irracionais.
Entendi: acho que nasci ontem ou morri cedo demais.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Três ônibus e dois terminais

- Podia ser mais simples não fosse tão complicado!
Brilhante dedução, pensei eu, mas é o que sempre me vem à mente no retorno à minha casa. São vários ônibus, mas poderia ser apenas um ou mesmo nenhum, já que o que separa o local de trabalho do meu lar não chega a cinco quilômetros. Certamente quarenta a cinquenta minutos de uma saudável caminhada seriam mais do que suficiente e ainda me permitiriam umas calorias a mais no final de semana.
Mas, sério mesmo. Cheguei realmente a pensar em voltar a pé, apreciando a paisagem, como fazem os cidadãos primeiromundistas, na sua doce ilusão de que tal gesto anularia os estragos ambientais de seu país industrializado e ainda salvaria o planeta da hecatombe profetizada, mas logo desvaneci de tão nobre intenção. Como ir caminhando se o só cruzar-me com alguém vindo em minha direção de bicicleta já deixa meus nervos em frangalhos? Não tenho coração para tanto. Outro dia mesmo soube de uma amiga que, ao ser surpreendida por um transeunte usurpador do direito de posse de seu celular investindo contra ela, por sua pueril recusa levou tanta coronhada que precisou de uns pontos para emendar-se, e ela ainda teve sorte, porque outros, e não ela, é que poderiam estar contando sua história.
Por isso, conformei-me em "passear" de coletivo todas as noites. E assim o faço: três ônibus e dois terminais me separam, cinco dias por semana, do meu home sweet home que fica quase ali, a umas dezenas de quadras de distância.
Contudo, poderia ser pior. Não é assim que pensam os otimistas de plantão? Poderia nem mesmo conseguir percorrer meu trajeto ilesa, ainda que de inúmeros coletivos. É que vivendo nesse Brasil de tantos descalabros, chegar em casa sem qualquer remendo, por incrível que pareça, constitui-se atualmente um grande golpe de sorte diário.

Ana Valéria

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Uma Batalha Quixotesca

Cansei, esgotada da vida recheada de moinhos. Quero encostar a lança e o escudo e apenas chorar.
Estou cansada dos golpes dados a ermo sem nada alcançar, enquanto vejo-me atingida, mais rápído do que posso me defender.
De que adianta um bronze mais polido e uma ponta mais mortal?
De que adianta enfrentar o inimigo se já nem sei mais quem é?
De que adianta mais uma estratégia aprendida se a próxima ainda não dominei, ficando sempre a um passo atrás?
Não há justiça onde se espera, nem dignidade entre os iguais.
A credulidade apenas amacia a carne para os predadores em uma utopia de mudança reservada aparentemente aos ingênuos. As estruturas são mais sólidas, não se desfazem sob golpe repetidos.
Ceguei!
Onde estão todos? Estremeço ao ver uma plantação de trigos iguais, podadas na altura certa, sem espiga; desumanizada.
É triste ver o resultado: ao vento, balança de forma sincronizada, obedecendo estéril.
Quero só me recostar. Preciso me recostar senão padeço por inanição.
Não há como remendar. O pano velho se rasgaria. E pranteio. Olhos ressequidos, armadura largada.
Quixotescamente falando, não há solução.
E sobre zumbis passeiam os que se beneficiam do caos.
Tem misericórdia, meu Deus, e faz soprar o teu vento que um dia derrubou muralhas e ergueu ossos antes secos.
Não sou Dom Quixote, carente de juízo. Os moinhos serão sim destruídos. Disso eu tenho certeza. E voltarei a lutar!

Ana Valéria

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Um leque chamado "deseducação"

Não sou especialista em educação, em estudos sociológicos ou coisa parecida, mas, mesmo com meus olhos leigos, atrevo-me a atribuir o desmando generalizado em que boia a nossa sociedade à sucessão de desrespeito à educação primária pública que nossos políticos insistem em negligenciar.
Olhe para os lados. Onde não encontramos flagrantes de desrespeito às leis ou às boas maneiras?
No trânsito é de deixar qualquer um estupefato o simples trafegar. Como exemplo veja o que ocorre nos cruzamentos de nossa cidade: independente da hora não existe mais parada obrigatória em sinal vermelho (a propósito sugiro adicionarem mais uma cor à tríade do semáforo: a cor laranja após a amarela, já que essa última não serve mais de alerta); o contra-fluxo, que seria restrito aos coletivos, transformou-se em permitido fluxo e a placa de proibido estacionar teve seu sentido alterado para proibido enxergar-me, já que estacionam mesmo sob ela; e por aí vai...
No convívio interpessoal, tenho me deparado em situações onde o dizer b
om dia, boa tarde ou boa noite recebe o silêncio como resposta, parece que ser educada saiu de moda.
A situação está tão caótica que às vezes quase me sinto culpada por ainda ser honesta ou por não me prevalecer de determinadas situações diante de algumas pessoas.
Ninguém me tira da cabeça que grande parte do que ocorre agora é reflexo de anos de descaso com a educação escolar. Há tempos que a educação formal limitou-se à extensão do currículo, quando muito, ficando as regras básicas de convivência negligenciadas.
O que testemunhamos a cada minuto do nosso dia, onde quer que estejamos, é o perímetro do leque que tem como base a escola.
Sem uma educação séria e de qualidade não há como se esperar uma convivência pacífica entre as pessoas nem uma sociedade pautada na fraternidade e no respeito ao próximo.
Por enquanto, serve a máxima: salve-se quem puder!
Ana Valéria