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sábado, 21 de novembro de 2009

Discurso de uma atéia das Religiões

Fui educada num lar religioso. Desde o princípio sempre me ensinaram a crer em uma divindade. Associaram a ela a minha vida: minha paz, felicidade, saúde, segurança... tudo enfim.
Aos poucos fui crescendo e dissociando os fatos da vida à existência do Sagrado. Já não podia acreditar porque outros acreditavam. Fiz minha busca pessoal. Peregrinei entre muitas religiões e algo me despertou a atenção: como pretensa re-ligação ao Sobrenatural, a religião se perde nas manifestações que em nada representam essa tentativa.
Um dia, enamorei-me do Islamismo. Sua valorização cultural é primaz. A forma como surgiu para unificação de um povo merece elogios. Mas, não entendi uma Jirad, o terrorismo, o massacre contra aqueles que não são seus pares; a supervalorização masculina em detrimento das mulheres. E tudo sob a aprovação de Alá.
Em outro momento o budismo também me encantou. Os princípios ensinados pelos monges são belíssimos. Seu silêncio, seus cantos monossilábicos... O caminho do meio como o mais harmonioso e equilibrado e que deve sempre ser buscado. Mas não entendi a fuga da realidade na meditação em mosteiros tão longínquos. O carma que castiga àquele que nem sabe pelo que está expiando; e uma divindade impessoal e que não ouve aos meus apelos se eu não fizer por onde.
Também já me fascinei com o hinduísmo. Suas cores, suas nuanças, seus aromas e todo o seu misticismo atraem a todo aquele que se inebria com os elementos que retratem o sobrenatural. Mas não entendi os seus milhões de deuses; a preservação de um grupo de pessoas “especiais” na mesma medida do desprezo a outros; e a convivência da bomba atômica e de tantos nobéis com a fome e a extrema pobreza.
Ouvi ainda falar das manifestações afro-religiosas com seus rituais e danças, mas não entendi sua interação com o mal, seus sacrifícios e suas oblações; ou ainda do Espiritismo, com sua ênfase a boas obras, mas me recusei a entender as inúmeras reencarnações pra um dia se chegar ao Bem supremo.
Por último, busquei a religião Cristã. Um deus barbudo, de vestes brancas, que me leva para o céu se eu for boazinha a mim foi exibido. Um deus de recompensa pelos bons atos; de rezas e de promessas; de dias santos e de esmolas. Mas, não entendi as cruzadas; o fundamentalismo que discrimina e mata; a inquisição que mandou tantos à fogueira; a intolerância dogmática aos que estão marginalizados; o legalismo que separa e oblitera a comunhão. Não entendi também a crueldade das nações ricas ditas cristãs na indiferença as mais pobres e na preservação conveniente do abismo social que há entre elas. Tudo isso em nome desse deus.
Assim, desisti da religião.
Hoje sei que mais que religião o mundo precisa de amor. Um amor que faça a diferença; que se escandalize com a injustiça; que escute o clamor do desvalido; que lute a causa do aflito; que una os diferentes; que supere a distância dos credos; que transforme o substantivo num verbo e que ande de mãos dadas com a paz.
Hoje não quero religião. Conheci alguém que viveu assim, conheci Jesus. Quero, então, fazer da atitude dEle, que deu a vida por mim, a razão pra que eu continue a viver. Fiz minha opção: sou “atéia das religiões”; mas também uma amante da vida e uma sonhadora de um mundo que pode ser bem melhor.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Manias Espirituais


Gostaria de saber como surgiram certas "manias" evangélicas. Gostaria também de saber porque elas se alastram como fogo em pólvora e tomam conta das igrejas, sem o mínimo de espírito crítico apenas pelo ar de sacralidade. Vejamos:
1. O que quer dizer a alcunha "música do mundo" dada a algumas categorias musicais? Isso porque, primeiro, tudo que qualquer pessoa faça, independente de ser de igreja ou não, tem como palco de criação este mundo, ou seja, esse planeta, ou será que há algo feito noutro mundo ou noutra dimensão espacial? Certamente não se foi feito por seres bípedes da espécie Homo sapiens, afinal, que eu saiba, não há assombrações compositoras. Contudo, por outro lado, há sim músicas que louvam a Deus enquanto outras não. E qual o critério para essa divisão? É só analisar a intenção por trás de cada letra. Mas que fique claro que não é preciso que tenha o nome de Deus ou que fale em "evangeliquês" para que seja de louvor. A própria Bíblia é uma prova disso em sua simplicidade. O livro de Ester atesta isso. Ele não cita o nome de Deus, mas é sagrado. Se uma música enaltece a alegria, o amor, a natureza, a vida, sem deturpar o sentido da criação ou diminuir a dignidade da nossa existência, foi feita no mundo mas não é mundana, portanto louva a Deus, que é o Pai de toda a Criação.
2. Também não entendo porque há "coisas ditas espirituais" e outras tantas que não são, porque, ao meu modo de ver, se todos os que se converteram são templo do Espírito Santo, habitação do Eterno, tudo o que está relacionado com esses tem conotação espiritual, porque feitas em Deus, independente do quê e de onde se está. A confusão feita é fruto da percepção errônea de que há coisas mais santas de serem feitas que outras, o que é uma bobagem. Por exemplo: vejo que alguns fazem distinção entre varrer uma casa e varrer a igreja, como se a primeira atividade não fosse espiritual, enquanto a segunda é. No caso, o que santificou a ação foi o local? E há algum lugar onde Deus não possa estar? O máximo que pode haver são coisas entendidas como eternas e outras como temporais, se considerarmos a perenidade delas, já que umas têm alcance além dessa vida, mas tudo deve ser entendido como espiritual, até quando distantes da igreja.
3. Não entendo também distinções durante o culto de celebração entre o momento de adoração e o de louvor, quando se toca mais rápido ou mais lento, porque essas duas palavras querem dizer uma coisa só. Adora-se e louva-se a Deus não apenas com alguns instrumentos ou apenas com alguns ritmos. O louvor a Deus tem mais a ver conosco do que com esses expedientes. Também, restringi-los a apenas alguns momentos da celebração é um disparate. Todo o culto é feito para louvor e adoração ao Senhor. Por isso, o convite que se faz ao final da celebração para encerrar o culto está errado, porque este deve fazer parte da nossa vida como um todo, afinal fomos criados para a glória de Deus e isso não se resume a apenas algumas poucas horas do domingo. Puro cacoete!
Só mais uma palavra. Quando em Marcos 12:30 diz: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento", entendo que até nas nossas manias precisamos usar o discernimento. Não podemos simplesmente sair reproduzindo algo de forma indiscriminada, por mais aparência de santidade que tenha. Jesus, em sua infinita sabedoria, não nos chama a abraçar a fé sob a condição de suicídio intelectual.
Se usássemos mais essa faculdade, talvez não fôssemos vistos por tantos como pessoas esquisitas e cheias de mania.