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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Os cristãos e o "biblicismo"












34 Mestre, qual é o grande mandamento na lei?
35 E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
36 Este é o primeiro e grande mandamento.
37 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
38 Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.
(Mt 22: 34-38)


Nessa narrativa Jesus foi bastante contundente: todas as Escrituras se resumiam a estas duas ordenanças. Mas o que Ele queria nos ensinar com isso?
Muito! Que esses são os princípios básicos que deveriam reger nosso comportamento. Que vivemos não para nós mesmos, mas para Deus e para o outro. Que se há dúvida em relação a alguma decisão, a alguma escolha, a alguma atitude, o crivo será dado a partir daqui, mesmo que em detrimento disso algumas situações estejam em jogo.
E foi isso que Jesus exemplificou com sua própria vida, quando abriu mão do sábado, ou dos rituais de pureza ou quando se envolveu com a escória da sociedade, comprando briga com a elite religiosa da época, que, com seu extremo zelo, ignorava a vida em função da devoção, vindo assim a pagar sua ousadia com seu próprio sangue.
No entanto, essas palavras permanecem atuais. Os tempos são outros, mas ainda temos dificuldades em fazer valer tais ordenanças. Na verdade acho que somos craques nisso: em complicar o que é simples, daí esse "biblicismo" exarcebado de alguns cristãos. E as coisas se repetem: só mudam os atores, mas as personagens são as mesmas.
Se compreendêssemos de fato as palavras de Jesus não precisaríamos - me atrevo a dizer - da Bíblia. Bastaria a cada dia, em cada momento, avaliarmos a intenção de nossas ações por esse duplo mandamento. E seríamos, então, talvez, não tão bons leitores das Escrituras, mas com certeza pessoas melhores, em um mundo mais justo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Religião se discute sim!


"Futebol, religião e política não se discute". Já ouvi essa frase inúmeras vezes, mas questiono qual a intenção de quem a usa. Será uma maneira de dizer que simplesmente não se interessa pela opinião alheia, ou uma forma velada de se esconder atrás das palavras, temendo descobrir que está errado, pondo em prova suas convicções, ou mesmo só o "papaguear" de uma frase estéril de um aparente esclarecimento?
Seja como for, entendo essa frase mais como uma ideologia bem própria da nossa época, principalmente no que diz respeito a Deus.
Nos tempos bíblicos, falar sobre religião, ou seja, falar sobre Deus, fazia parte do cotidiano das pessoas, porque tudo tinha explicação a partir dEle. Se chovia ou não, se a família era grande, se a economia estava bem, se a nação estava segura... enfim, tudo tinha Deus como fundamento intrínseco.
Hoje, acredito que fruto da própria "evolução" tecnológica, Deus não faz mais parte dos contextos do dia. Se o assunto é chuva a meteorologia tem a resposta - nem que seja atrasada; se a família não cresce, há opções artificiais de reprodução; se o assunto é economia provavelmente vai estar relacionado a algum plano de governo - ou a falta dele; e quanto a segurança da nação existem estratégias militares de defesa com esse propósito, por isso Deus se tornou um assunto secundário.
Pior pra nós. Hoje, Deus tem mais a ver com assunto de fanáticos religiosos alienados que com as respostas às questões existenciais próprias de qualquer ser humano, indepente da época em que viva. Excluímos Deus daqueles setores, mas também o eliminamos da nossa vida.
A tecnologia acelerou processos, facilitou o deslocamento, aproximou distâncias, mas não trouxe sentido à nossa existência, não nos fez melhores como gente, nem mais humanos, mais generosos. Onde está a evolução então?
Religião não apenas se discute, como sua discussão deveria ser constantemente estimulada. Não há respostas fora dela. Discussão não como forma de persuasão, proselitismo ou imposição fanática de uma religião sobre outra, e sim como uma maneira de encontrar solução aos nossos conflitos interiores.
Perdemos nós com essa visão departamentalizada da vida, como se fôssemos um conjunto de partes que mal estão coladas. Não há como nos fracionar em pedaços de interesses distintos. Somos um inteiro, portanto, Deus faz parte da gente.
Essa visão pobre dos tempos atuais é a prova da fragilidade de um sistema que, à custa de uma ideologia, faz a opção por nós, impedindo a construção do que há de mais valor ao ser humano, impondo-nos uma vida sem razão.

Um Deus "pouco ortodoxo" (parte II)

É surpreendente como um Deus imprevisível nos apavora. Isso porque lidar com algo que não segue roteiros predefinidos nos deixa sem o controle da situação, roubando o chão que pisamos. É muito mais fácil estabelecer limites, regras, etc, que deter o Imponderável. No entanto, muitas vezes só se percebe tardiamente que, como fumaça entre os dedos, manter Deus dentro de fronteiras é buscar o insucesso ou a frustração.
Contudo, isso é o que acontece na relação de muitos com Ele: teimam em aprisioná-lo nas páginas da Bíblia ou entre paredes institucionais ou acuá-lo a regras e preceitos devocionais de uma instável religiosidade. Pura quimera! Em tais casos, foi-se a glória de Deus.
Por outro lado, Deus é mais "previsível" que supõem algumas mentes mais exigentes. Ele está sempre a favor da vida em sua plenitude, mesmo que isso signifique "desviar-se" de muitos padrões rígidos devocionais - lição clara dada por Jesus.
Deus não tem religião, nem é religioso. Não segue catecismos nem credos humanos. Ele extrapola qualquer preceito. Não fosse assim não seria Deus. Mas o problema está justamente nisso: querer saber quem Ele é, desde que conhecimento seja poder. Cabe a nós nos redimir a pequenez que nós é permitida.
É pouco a sinceridade religiosa de intenções. Seguir a Deus é mais do que supõe nossa vã filosofia piedosa, para desespero de alguns. É deixar-se guiar por uma doce "imprevisibilidade" maior que nossa necessidade de compreensão. É, sim, estabelecer como meta a vida e a dignidade própria ou de outrem, como louvor à sua criação, e não escandalizar-se com Sua "irreverência" que permite colocar sempre a vida em primeiro lugar.

Ana Valéria

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Uma boa surpresa

Outro dia coloquei por brincadeira meu nome no google esperando encontrar apenas listas burocráticas, contudo me surpreendi ao ver uma poesia minha publicada no site do dragão do mar. É que mandei àquela instituição há algum tempo e descrendo que poderiam publicá-la, nunca fui conferir. Esse tipo de surpresa é bom ter.
Ei-la:

É DIVAGAR

É devagar, é devagar, devagar... Indo!
Pra que a pressa, se não se sabe o que se esperar?
Pra que a pressa, se só se leva o que se vive e não o que se pode comprar?

É devagar, é devagar, devagar... Indo!
Se tão rápido a Terra vive a girar,
E ao redor do sol bamboleia, sem se cansar.
Pra que a pressa se mesmo correndo tanto, mal saímos do lugar?

É devagar, é devagar, devagar... Indo!
Pra que a pressa, se no fim todos os meus movimentos devem contar...
Tanto quanto os daqueles que só viram a vida passar?

É devagar e a divagar... Indo.
Bem pensando, melhor do que correr é divagar...
Porque célere no meu pensamento, qualquer movimento me leva pra algum lugar;
E nestes devaneios, me pego pensando sem nunca parar... Só a divagar.

http://www.dragaodomar.org.br/index_new.php?pg=impre32

Um Deus "pouco ortodoxo"

É intrigante ver como nosso Deus não se adequa àquilo que foi estabelecido como regra.
Mesmo conhecendo suas normas e preceitos; seus inúmeros mandamentos e prescrições, Ele mesmo não se deixa moldar por padrões externos e religiosos quando o que está em jogo é a vida.
Esta manhã me deparei com o seguinte texto:"Na verdade, a maioria do povo, muitos de Efraim, de Manassés, de Issacar e Zebulon, não se tinham purificado; comeram a páscoa sem obedecer à Escritura. Mas Ezequias orou por eles dizendo: 'Que Iahweh na sua bondade, cubra o pecado de todos os que aplicaram o seu coração em buscar a Deus, a Iahweh, o Deus de seus pais, mesmo se não têm a pureza exigida para as coisas santas!' Iahweh ouviu Ezequias e conservou o povo são e salvo." (IICr 30:18-20). O que me levou a pensar.
Talvez o que aterrorize a muitos é que Deus é menos ortodoxo do que se poderia esperar. Para alguns isso é motivo de desequilíbrio já que, segundo esses mesmos, não se sabe exatamente o que esperar de um Deus que rompe suas próprias regras, ou seja, que se mostra um tanto quanto imprevisível.
Contudo, uma visão assim só retrata uma forma rígida de pensar: a da intolerância!
Quando o assunto envolve vida e dignidade, Deus é muito menos religioso do que se imagina. Foram palavras suas as de que prefere misericórdia ao sacrifício. Portanto, precisamos alargar nossos horizontes no que diz respeito à perspectiva que Deus tem da nossa vivência religiosa. Deus rompe sim padrões quando o que está em jogo é gente.
Se pra manter algo em nome de um status quo é necessário "passar por cima" da vida ou dignidade de pessoas, poderemos nos surpreender com o julgamento do Senhor que provavelmente terá mais misericódia e menos ortodoxia que muitos de nossos irmãos "mais piedosos".
Beijão no coração.