Apenas um lugar para a gente pensar junto...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Os publicanos e meretrizes de hoje

"A coisa absolutamente imperdoável [em Jesus] não era a preocupação com os enfermos, os aleijados, os leprosos, os possessos... nem mesmo sua opção pelas pessoas pobres e humildes. O verdadeiro problema é que ele se envolveu com fracassados morais, com pessoas obviamente incrédulas e imorais: pessoas moral e politicamente suspeitas, muitas delas tipos dúbios, obscuros, abandonados, sem esperança, à margem de toda a sociedade, como travestis, bicheiros, trambiqueiros, bêbados inveterados, garotas de programa... (acréscimo meu). Este era o verdadeiro escândalo. Será que ele tinha mesmo que ir tão longe? Esta atitude, na prática, é notadamente distinta do comportamento geral das pessoas religiosas." (Por que ainda ser um cristão hoje? - Hans Küng).


De que lado estamos hoje? Acompanhando os ensinamentos de Jesus e imitando-o ou torcendo a cara e mudando de calçada ao nos depararmos com esses tipos?

Sou uma ET

De uns tempos para cá tenho me sentido uma ET no meio evangélico. Isso se deve a uma constante sensação de inadequação, como se lugar nenhum me coubesse. Mas como se sentir bem entre tantos limites e imposições crueis?
Já pensei em deixar de frequentá-la e só não fiz isso porque fui levada a crer que ali há também muitos outros inconformados como eu, que ainda teimam em acreditar, mas reconheço que essa pueril obstinação provoca muitas reações desagradáveis.
Sou uma leitora assídua da Bíblia. Tenho por hábito há anos a leitura devocional daquele livro nas primeiras horas da manhã, mas tenho a impressão que isso não tem provocado em mim algo muito bom, porque quanto mais a leio, mais inconformada fico com os moldes eclesiásticos atuais pelo choque que há entre o que medito nas Escrituras e o que ouço nos sermões.
Sinceramente, como acreditar em um Deus de tantas "senões"? Nos púlpitos escutamos as condições para conseguirmos os benefícios divinos; para sermos salvos e/ou para permanecermos com a salvação; para não sermos castigados; para não escandalizarmos o Espírito Santo; para não nos contaminarmos com o mundo... Aí pergunto: de qual Deus estamos falando? Qual a Bíblia que andam lendo? Como conciliar essas exigências com a Boa Nova da graça? Como combinar esses condicionamentos à liberdade responsável ensinada por Cristo?
Por isso, questiono quem é mais ET. Se quem tenta se infiltrar na sociedade, tentando não chamar a atenção como caricaturas extravagantes de um povo separado por Deus ou se criaturas autômatas e esdrúxulas que, pela ausência de uma leitura crítica da realidade e da Bíblia, fazem questão de viver "longe do mundo"?
Como testemunhas (At 1) sei da responsabilidade que devemos ter para os outros, mas como criaturas alcançadas pelo amor e pela graça de Deus sei também que testemunho maior é dado quando conseguimos ser notados não por esquisitices, mas por um jeito leve de viver.
Pensando bem, vou deixar de me incomodar de ser uma extra-terrestre se isso implica uma vida diferente daquela imposta por muitas pregações infantilizadas, afinal, essa igreja está da terra demais para o meu gosto.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Toda unanimidade é burra



Lendo com um pouco mais de atenção o discurso de Estevão no capítulo 7 de Atos observa-se alguns pontos que são dignos de nota. Ele afirmou categoricamente que
1. Moisés não foi o verdadeiro príncipe e libertador do povo judeu (v.35);
2. Moisés não falou com Deus face a face, mas sim com seu anjo (v.38);
3. O Templo de Jerusalém não era a verdadeira habitação de Deus (vv. 48, 49);
4. Os judeus de seu tempo eram tão obstinados e resistentes a Deus quanto os antigos (vv. 51, 52);
Por isso a reação furiosa dos seus ouvintes (v.54), a ponto de o privarem de um julgamento justo e o matarem lapidado em um ato de linchamento cruel.
O interessante é que o que Estevão falou era apenas um reflexo de como os judeus da dispersão (helenistas) compreendiam a história de Israel. Ou seja, não havia um judaísmo único e hegemônico naquela época, mas sim vários. Isso sem citar as diferenças entre as teologias dos fariseus, saduceus, essênios, zelotas, etc.
Da mesma forma se percebe o cristianismo incipiente da Igreja Primitiva, exemplificado pelas inúmeras controvérsias entre os ensinamentos de Paulo e o de Pedro e Tiago, parcialmente resolvidas em um concílio do capítulo 15.
Portanto, é ingênuo querer um único cristianismo atualmente. A Heterogeneidade de pensamentos é um dos resultados do livre pensar e completamente saudável. Nelson Rodrigues acertou quando afirmou que toda unanimidade é burra, porque expressa uma visão caolha de qualquer ponto. Dessa forma, o que precisamos aprender é a conviver com os diferentes sem nos sentirmos ameaçados. Tolerância talvez seja hoje um dos mais fortes sinais de maturidade e verdadeiro espírito cristão.
Citando Voltaire, endosso suas palavras em relação aos que pensam diferente: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las".
Da imposição aos outros de uma única maneira de pensar o mundo está cheio, daí o crescimento do fanatismo religioso não apenas no Oriente Médio.
Se não abrirmos ao outro um canal de comunicação, sem a franca consciência de que estamos sempre certos, estaremos fadados a cometer os mesmos erros que levaram a morte do primeiro mártir cristão e a, talvez até, impedir nosso próprio crescimento, fazendo calar a voz do Espírito em nós.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Atletismo Bíblico



É incrível o malabarismo que fazemos com alguns textos bíblicos, tirando-os do seu contexto para justificarmos nossa "evangelização".

O texto de Fp 4:13: "tudo posso naquele que me fortalece" é muito usado para afirmar nossos super-poderes espirituais, contudo, Paulo, na carta, acabara de mostrar que sabe passar inclusive por momentos de privações porque sua força está em Deus. Não há indicação nenhuma da afirmação que é feita atualmente, dando a entender que conseguimos tudo o que queremos.

O texto de Ap 3:20: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo" não foi feita em um contexto de atrair prosélitos, como teimamos em afirmar aos descrentes hoje, mas sim à igreja de Laodicéia, o que surpreende por mostrar a ausência de Cristo no coração de muitos crentes.

Outro texto desvirtuado de seu sentido original também é Rm 8:37 quando afirma: "Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores". No caso, exaltamos o "vencedores", mas ignoramos o pronome demonstrativo que determina o sentido do texto, que é um contexto de entrega à morte diária, distanciando muito da idéia de campeões da fé.

Outro exemplo típico é o de uma frase comum encontrada em muitos adesivos de carro: "Deus é fiel". Contudo, a afirmação carece de um objeto: a quem Deus é fiel? Em Ez 36: 32 o Senhor declara: "Não é por amor de vós, fique bem entendido, que eu faço isto, diz o SENHOR Deus", o que mostra que a fidelidade de Deus não é à a, b ou c, mas ao seu nome, estabelecendo uma diferença bem grande entre aquilo que é feito como "propaganda" de Deus. E assim por diante.

Não é preciso ser doutor em Bíblia para citar seus textos sem ideologias subliminares, mas certamente é necessário sermos mais honestos para não afirmarmos qualquer coisa além do que está escrito, mesmo que a intenção seja a de atrair pessoas para nossas igrejas. O Reino não precisa disso. O primor pela qualidade é mais importante que o da quantidade.

Somente com uma pregação verdadeira é que a igreja do Senhor vai ter a ganhar.

domingo, 6 de setembro de 2009

Como o mundo nos ouve

Tenho a impressão que com o testemunho de alguns grupos evangélicos, nossa evangelização se tornou motivo de chacota, pilhéria. Podemos até falar coisas coerentes, mas como nossas ações falam mais alto, pouca coisa é crível. Assistindo a esse vídeo, foi impossível, de forma jocosa, não associá-lo à forma como nos ouvem. Para muitos, nosso discurso é vazio de significado, porque não vem acompanhado de sentido prático. Convido-o(a) a assistí-lo para ver se concorda comigo ou não.
http://www.youtube.com/watch?v=TgITfB3JQdg

sábado, 5 de setembro de 2009

Complicando a Bíblia

Para quem se queixa da dificuldade de leitura da Bíblia:


1 Pascia Moisés a grei de Jetro, o genitor de sua consorte, eclesiástico de Midiã; e, induzindo o rebanho ovino para o lado ocidental do espaço ermo e desabitado, de precipitações atmosféricas escassas ou irregulares, chegou a parte de uma superfície de Deus que se eleva em relação ao espaço circundante, a Horebe.
2 Revelou-se-lhe o mensageiro celestial do SENHOR numa mistura gasosa e incandescente, acompanhada de luz e energia térmica, que se forma durante uma combustão, no meio de um arbusto silvestre; Moisés mirou, e eis que ele conflagrava-se espontaneamente e não se transformava em fumaça e cinza. (Exodo 3:1,2)

“11 Pronunciou-se-lhe o Todo Poderoso: Arreda e põe-te neste monte em presença do ente infinito, eterno, sobrenatural e existente por si só; causa necessária e fim último de tudo que existe. Eis que transpunha o SENHOR; e uma grande e forte massa de ar atmosférico em movimento natural fendia os montes e despedaçava as penhas diante do SENHOR, porém o SENHOR não estava nele; depois da aragem, um sismo estrondoso, mas o SENHOR não estava no abalo terrestre; 12 depois deste, um fenômeno que consiste no desprendimento de calor e luz produzidos pela combustão de um corpo, mas o SENHOR não estava nele; e, depois deste último, um cicio pacífico e afetuoso.” (1 Reis 19:11-12 RA)

“ E calhou que, enquanto ele deprecava, a exterioridade do seu expressão facial se transfigurou e seus indumentos resplandeceram de brancura.” (Lucas 9:29 RA)

“26 Destarte, se vos articularem: Eis que ele está no bioma de baixa diversidade, que se estabelece em região com pluviosidade muito baixa ou irregular!, não vades. Ou: Ei-lo no interior do edifício de formatos e tamanhos variados, geralmente de um ou dois andares, quase sempre destinado à habitação!, não deis crédito. 27 Porquanto, assim como o clarão resultante de descarga elétrica que se produz entre duas nuvens ou entre uma nuvem e a terra sai do oriente e se manifesta até no ocidente, assim há de ser a parousia do Descendente do sexo masculino do Homem.” (Mateus 24:26-27 RA)

Então veja: não há nada tão complicado que não se pode complicar mais. Contudo, acredito que mesmo com a linguagem mais prolixa, o texto ainda ficou compreensível, portanto, a questão está mais para uma disposição, ou não, em ler do que no texto em si. Dessa forma, vale a fórmula: "quando a gente quer, dá-se um jeito, quando não quer, arranja-se uma desculpa."




sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Quem sou eu? (parte II)


Resposta do enigma do texto anterior: Uma bisteca bovina digerida.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

QUEM SOU EU?


Quando dei por mim já estava lá. O caos me acolheu. Não havia mais nada que lembrasse quem eu já fui.Subitamente senti-me triturada, e levada, em um ritmo frenético, ao encontro do nada. Não havia o que fazer. A cada minuto apenas me sentia menor. E me redimi à minha condição de desamparo.
Mais um pouco e fui sendo levada. O desconhecido me aguardava. Comprimida como fiquei mal tinha tempo de raciocinar. E vi-me imobilizada pela dor, em um mar de destruição.
O embalar das ondas dilacerava-me, pressionada de todos os lados. Tinha apenas a sensação da perda da minha identidade. Impactada pelas águas, reduzía-me. A pequenez me feria. Então fui levada de novo.
Em um ambiente sufocante senti meu fim. O que fui passou. Diluí-me completamente. Perdi minha essência. Deixei de existir.
Contudo, encontrei meu destino. Melhor assim que o fim de alguns outros pares meus. Pelo menos passei a fazer parte de algo maior. É fato: não sou mais eu, mas tornei-me melhor. A dor transformou-me. E agora sou parte de lutas, de idéias, de vida.
Nasci ruminando, mas agora, pós-digerida, faço parte de um corpo humano.

Quem sou eu?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Os Samaritanos de hoje

A parábola do Bom Samaritano é uma boa pista de como devemos gastar nossa vida cristã. Nada é mais importante do que o outro.
Nas palavras de Jesus, no meio do caminho havia um homem abatido, violentado, vítima de um assalto. Por ele passam três pessoas. As duas primeiras, um sacerdote e um levita, figuras religiosas, passam, cada uma a seu tempo, sem perceberem alguém mais além deles mesmos. A terceira pessoa, de religião "errada", mestiça, marginalizada, ao cruzar com o ferido é o único que o percebe, pára e faz alguma coisa. Por isso mesmo é o único a receber elogios de Jesus.
Provavelmente os dois religiosos tivessem na mente alguma preocupação eclesiástica, o que não se constitui necessariamente em algo errado. Surge um problema quando se torna prioridade, vindo a determinar a maneira de encarar a vida. Horários, prazos, preces, ritos litúrgicos... preocupações típicas de quem está em um trabalho de igreja, podem exercer um enorme fascínio a ponto de obliterar o mais importante: nosso papel na vida do outro.
A inclusão de um samaritano na parábola teve como objetivo apontar essa aberração. O socorro veio justamente de alguém sem qualificação, mas que não tinha essas prioridades, por isso podia "perder tempo" com alguém.
Talvez isso explique a participação dos profetas anônimos em tantas questões socias e políticas atualmente, escancarando a injustiça e a exploração, enquanto a voz do povo de Deus permanece calada. Homens e mulheres que, se passados pelo nosso cadinho religioso, jamais "ousariam" ter a voz em nossas igrejas, no entanto, fora delas, fazem o que não fazemos.
São bem vindos então, certamente não nos nossos arraiais santos, mas onde são necessários e onde deveríamos estar: no mundo.
Se olhássemos menos para nossos programas, prazos, ritos... possivelmente perceberíamos que, enquanto os "samaritanos" de hoje fazem alguma coisa por quem precisa, passamos a largo, ocultando o Evangelho em nossos antros, enquanto aqueles recebem os elogios do Nosso Mestre.