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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Já tive um sonho

“I have a dream...” Essas palavras eternizadas pelo Rev. Martin Luther King Jr. tornaram-se quase um símbolo à luta pela igualdade. Na época os Estados Unidos viviam um fervilhar de manifestações em função de questões raciais: seres humanos, todos de cor sanguínea igual, digladiavam-se pela cor diferente da pele. A “superioridade” étnica branca subjugava seus quase irmãos negros a ponto de lhes exporem a situações vexatórias públicas, plenamente convencidos de suas razões para isso. Contudo, esse fato lamentável, referendado inclusive legalmente, não foi único na história e jamais será uma situação isolada a envergonhar a raça humana. Episódios como esse foram por demais comuns a ponto de quase caracterizarem a humanidade: onde há gente, há sobrepujança de uns sobre outros. Caim e Abel que o digam. Não é preciso um esforço sobre-humano para trazer à memória situações onde grupos – algumas vezes até mesmo minoritários – tentando fazer prevalecer seus direitos – e convencidos de sua legitimidade – perseguiam e massacravam seus opositores no sentido de sua completa eliminação. As Cruzadas medievais, Santa Inquisição, Noite de São Bartolomeu na França, entre outros e, mais recentemente, o nazismo, Tutsis e Hutus em Uganda, o apartheid na África do Sul e a já referida luta pelos direitos iguais entre brancos e negros nos Estados Unidos... todos episódios que mancham a nossa humanidade em seu sentido estrito, quando lembramos que somos todos nós semelhantes e fraternalmente ligados por uma origem única. Porém, talvez algo de bom poderia ser tirado como lição de todos esses enfrentamentos: a braveza da resistência. É certo que muitos morreram, mas é igualmente certo afirmar que muitos desses deram tudo de si por algo que acreditavam. Morreram em batalha, ensinando-nos que não há vergonha em se lutar pelo prevalecimento da vida e da igualdade. Por pessoas como essas não há porque se ruborizar. Provavelmente o mundo não fosse digno delas. Nem sempre os que ganham são os verdadeiros vencedores.
Já sonhei com um mundo de iguais. Já ensinei a semelhança entre todas as pessoas. Já me vi como agente de transformação em busca da valorização da vida, por isso busquei ser educadora. Contudo parei de sonhar. Perdi a esperança. Hoje me vejo mais como um pássaro impedido de voar pela satisfação do ego de um caçador que furou seus olhos para tentar fazê-lo cantar a canção que mais lhe agrada. Já não há lirismo em minha melodia...
Não tenho mais direito de sonhar com um mundo melhor através da educação porque me vejo vítima da arbitrariedade de quem só pensa em dados. Não tenho mais o direito sequer de me queixar porque a “legitimidade” destes fez cessar meu fôlego. Levaram meu sonho, calaram minha voz, racionaram meu pão... Estivesse o Reverendo ainda hoje vivo veria que até os sonhos são emudecidos; deixados de sonhar.
Mais uma vez a história se repete e a humanidade perde pela imposição de quem se acha superior. Sucumbe assim a sociedade pelo cala-boca imposto aos educadores-sonhadores do Estado do Ceará.

Ana Valéria