Apenas um lugar para a gente pensar junto...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Toda unanimidade é burra



Lendo com um pouco mais de atenção o discurso de Estevão no capítulo 7 de Atos observa-se alguns pontos que são dignos de nota. Ele afirmou categoricamente que
1. Moisés não foi o verdadeiro príncipe e libertador do povo judeu (v.35);
2. Moisés não falou com Deus face a face, mas sim com seu anjo (v.38);
3. O Templo de Jerusalém não era a verdadeira habitação de Deus (vv. 48, 49);
4. Os judeus de seu tempo eram tão obstinados e resistentes a Deus quanto os antigos (vv. 51, 52);
Por isso a reação furiosa dos seus ouvintes (v.54), a ponto de o privarem de um julgamento justo e o matarem lapidado em um ato de linchamento cruel.
O interessante é que o que Estevão falou era apenas um reflexo de como os judeus da dispersão (helenistas) compreendiam a história de Israel. Ou seja, não havia um judaísmo único e hegemônico naquela época, mas sim vários. Isso sem citar as diferenças entre as teologias dos fariseus, saduceus, essênios, zelotas, etc.
Da mesma forma se percebe o cristianismo incipiente da Igreja Primitiva, exemplificado pelas inúmeras controvérsias entre os ensinamentos de Paulo e o de Pedro e Tiago, parcialmente resolvidas em um concílio do capítulo 15.
Portanto, é ingênuo querer um único cristianismo atualmente. A Heterogeneidade de pensamentos é um dos resultados do livre pensar e completamente saudável. Nelson Rodrigues acertou quando afirmou que toda unanimidade é burra, porque expressa uma visão caolha de qualquer ponto. Dessa forma, o que precisamos aprender é a conviver com os diferentes sem nos sentirmos ameaçados. Tolerância talvez seja hoje um dos mais fortes sinais de maturidade e verdadeiro espírito cristão.
Citando Voltaire, endosso suas palavras em relação aos que pensam diferente: "Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las".
Da imposição aos outros de uma única maneira de pensar o mundo está cheio, daí o crescimento do fanatismo religioso não apenas no Oriente Médio.
Se não abrirmos ao outro um canal de comunicação, sem a franca consciência de que estamos sempre certos, estaremos fadados a cometer os mesmos erros que levaram a morte do primeiro mártir cristão e a, talvez até, impedir nosso próprio crescimento, fazendo calar a voz do Espírito em nós.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Atletismo Bíblico



É incrível o malabarismo que fazemos com alguns textos bíblicos, tirando-os do seu contexto para justificarmos nossa "evangelização".

O texto de Fp 4:13: "tudo posso naquele que me fortalece" é muito usado para afirmar nossos super-poderes espirituais, contudo, Paulo, na carta, acabara de mostrar que sabe passar inclusive por momentos de privações porque sua força está em Deus. Não há indicação nenhuma da afirmação que é feita atualmente, dando a entender que conseguimos tudo o que queremos.

O texto de Ap 3:20: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo" não foi feita em um contexto de atrair prosélitos, como teimamos em afirmar aos descrentes hoje, mas sim à igreja de Laodicéia, o que surpreende por mostrar a ausência de Cristo no coração de muitos crentes.

Outro texto desvirtuado de seu sentido original também é Rm 8:37 quando afirma: "Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores". No caso, exaltamos o "vencedores", mas ignoramos o pronome demonstrativo que determina o sentido do texto, que é um contexto de entrega à morte diária, distanciando muito da idéia de campeões da fé.

Outro exemplo típico é o de uma frase comum encontrada em muitos adesivos de carro: "Deus é fiel". Contudo, a afirmação carece de um objeto: a quem Deus é fiel? Em Ez 36: 32 o Senhor declara: "Não é por amor de vós, fique bem entendido, que eu faço isto, diz o SENHOR Deus", o que mostra que a fidelidade de Deus não é à a, b ou c, mas ao seu nome, estabelecendo uma diferença bem grande entre aquilo que é feito como "propaganda" de Deus. E assim por diante.

Não é preciso ser doutor em Bíblia para citar seus textos sem ideologias subliminares, mas certamente é necessário sermos mais honestos para não afirmarmos qualquer coisa além do que está escrito, mesmo que a intenção seja a de atrair pessoas para nossas igrejas. O Reino não precisa disso. O primor pela qualidade é mais importante que o da quantidade.

Somente com uma pregação verdadeira é que a igreja do Senhor vai ter a ganhar.

domingo, 6 de setembro de 2009

Como o mundo nos ouve

Tenho a impressão que com o testemunho de alguns grupos evangélicos, nossa evangelização se tornou motivo de chacota, pilhéria. Podemos até falar coisas coerentes, mas como nossas ações falam mais alto, pouca coisa é crível. Assistindo a esse vídeo, foi impossível, de forma jocosa, não associá-lo à forma como nos ouvem. Para muitos, nosso discurso é vazio de significado, porque não vem acompanhado de sentido prático. Convido-o(a) a assistí-lo para ver se concorda comigo ou não.
http://www.youtube.com/watch?v=TgITfB3JQdg

sábado, 5 de setembro de 2009

Complicando a Bíblia

Para quem se queixa da dificuldade de leitura da Bíblia:


1 Pascia Moisés a grei de Jetro, o genitor de sua consorte, eclesiástico de Midiã; e, induzindo o rebanho ovino para o lado ocidental do espaço ermo e desabitado, de precipitações atmosféricas escassas ou irregulares, chegou a parte de uma superfície de Deus que se eleva em relação ao espaço circundante, a Horebe.
2 Revelou-se-lhe o mensageiro celestial do SENHOR numa mistura gasosa e incandescente, acompanhada de luz e energia térmica, que se forma durante uma combustão, no meio de um arbusto silvestre; Moisés mirou, e eis que ele conflagrava-se espontaneamente e não se transformava em fumaça e cinza. (Exodo 3:1,2)

“11 Pronunciou-se-lhe o Todo Poderoso: Arreda e põe-te neste monte em presença do ente infinito, eterno, sobrenatural e existente por si só; causa necessária e fim último de tudo que existe. Eis que transpunha o SENHOR; e uma grande e forte massa de ar atmosférico em movimento natural fendia os montes e despedaçava as penhas diante do SENHOR, porém o SENHOR não estava nele; depois da aragem, um sismo estrondoso, mas o SENHOR não estava no abalo terrestre; 12 depois deste, um fenômeno que consiste no desprendimento de calor e luz produzidos pela combustão de um corpo, mas o SENHOR não estava nele; e, depois deste último, um cicio pacífico e afetuoso.” (1 Reis 19:11-12 RA)

“ E calhou que, enquanto ele deprecava, a exterioridade do seu expressão facial se transfigurou e seus indumentos resplandeceram de brancura.” (Lucas 9:29 RA)

“26 Destarte, se vos articularem: Eis que ele está no bioma de baixa diversidade, que se estabelece em região com pluviosidade muito baixa ou irregular!, não vades. Ou: Ei-lo no interior do edifício de formatos e tamanhos variados, geralmente de um ou dois andares, quase sempre destinado à habitação!, não deis crédito. 27 Porquanto, assim como o clarão resultante de descarga elétrica que se produz entre duas nuvens ou entre uma nuvem e a terra sai do oriente e se manifesta até no ocidente, assim há de ser a parousia do Descendente do sexo masculino do Homem.” (Mateus 24:26-27 RA)

Então veja: não há nada tão complicado que não se pode complicar mais. Contudo, acredito que mesmo com a linguagem mais prolixa, o texto ainda ficou compreensível, portanto, a questão está mais para uma disposição, ou não, em ler do que no texto em si. Dessa forma, vale a fórmula: "quando a gente quer, dá-se um jeito, quando não quer, arranja-se uma desculpa."




sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Quem sou eu? (parte II)


Resposta do enigma do texto anterior: Uma bisteca bovina digerida.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

QUEM SOU EU?


Quando dei por mim já estava lá. O caos me acolheu. Não havia mais nada que lembrasse quem eu já fui.Subitamente senti-me triturada, e levada, em um ritmo frenético, ao encontro do nada. Não havia o que fazer. A cada minuto apenas me sentia menor. E me redimi à minha condição de desamparo.
Mais um pouco e fui sendo levada. O desconhecido me aguardava. Comprimida como fiquei mal tinha tempo de raciocinar. E vi-me imobilizada pela dor, em um mar de destruição.
O embalar das ondas dilacerava-me, pressionada de todos os lados. Tinha apenas a sensação da perda da minha identidade. Impactada pelas águas, reduzía-me. A pequenez me feria. Então fui levada de novo.
Em um ambiente sufocante senti meu fim. O que fui passou. Diluí-me completamente. Perdi minha essência. Deixei de existir.
Contudo, encontrei meu destino. Melhor assim que o fim de alguns outros pares meus. Pelo menos passei a fazer parte de algo maior. É fato: não sou mais eu, mas tornei-me melhor. A dor transformou-me. E agora sou parte de lutas, de idéias, de vida.
Nasci ruminando, mas agora, pós-digerida, faço parte de um corpo humano.

Quem sou eu?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Os Samaritanos de hoje

A parábola do Bom Samaritano é uma boa pista de como devemos gastar nossa vida cristã. Nada é mais importante do que o outro.
Nas palavras de Jesus, no meio do caminho havia um homem abatido, violentado, vítima de um assalto. Por ele passam três pessoas. As duas primeiras, um sacerdote e um levita, figuras religiosas, passam, cada uma a seu tempo, sem perceberem alguém mais além deles mesmos. A terceira pessoa, de religião "errada", mestiça, marginalizada, ao cruzar com o ferido é o único que o percebe, pára e faz alguma coisa. Por isso mesmo é o único a receber elogios de Jesus.
Provavelmente os dois religiosos tivessem na mente alguma preocupação eclesiástica, o que não se constitui necessariamente em algo errado. Surge um problema quando se torna prioridade, vindo a determinar a maneira de encarar a vida. Horários, prazos, preces, ritos litúrgicos... preocupações típicas de quem está em um trabalho de igreja, podem exercer um enorme fascínio a ponto de obliterar o mais importante: nosso papel na vida do outro.
A inclusão de um samaritano na parábola teve como objetivo apontar essa aberração. O socorro veio justamente de alguém sem qualificação, mas que não tinha essas prioridades, por isso podia "perder tempo" com alguém.
Talvez isso explique a participação dos profetas anônimos em tantas questões socias e políticas atualmente, escancarando a injustiça e a exploração, enquanto a voz do povo de Deus permanece calada. Homens e mulheres que, se passados pelo nosso cadinho religioso, jamais "ousariam" ter a voz em nossas igrejas, no entanto, fora delas, fazem o que não fazemos.
São bem vindos então, certamente não nos nossos arraiais santos, mas onde são necessários e onde deveríamos estar: no mundo.
Se olhássemos menos para nossos programas, prazos, ritos... possivelmente perceberíamos que, enquanto os "samaritanos" de hoje fazem alguma coisa por quem precisa, passamos a largo, ocultando o Evangelho em nossos antros, enquanto aqueles recebem os elogios do Nosso Mestre.