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sábado, 16 de outubro de 2010

A Ditadura da Felicidade

 "- Deixe fulano(a) ser feliz!"
Quantas vezes já ouvi essa mesma frase como uma imposição ao momento que alguém estaria vivendo. Contudo, o que questiono é essa ideia de felicidade. O que é ser feliz? Qual a sensação que determina que algo tornou-se a razão da felidade de alguém?
Pensando assim, é fácil percebermos a lista de motivos que hoje são propagados como úteis e imprescindíveis para tal sensação: a posse de algum artigo eletrônico que acabou de chegar no mercado; uma viagem para lugares desconhecidos; a sensação de algo inusitado que provocaria emoções novas e prazerosas, o êxtase de um momento com alguém, e assim por diante. Mas então volto à pergunta: por que tais coisas ou situações fariam alguém feliz? e, por que isso é felicidade? Se coisas ou situações como essas trazem de fato esse propagado gozo à alma - que seria definido como felicidade - precisamos concordar que ser feliz é por demais efêmero e fugaz. Dessa forma é compreensível a busca incessante da aquisição delas como um cachorro procurando seu próprio rabo, em um processo de constante busca e frustração.
Na contramão dessa ordem, ouvimos da boca de Jesus que felizes são os que choram, os que são perseguidos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os pacificadores... ou seja, segundo seus parâmetros o ser feliz está em deixar de ter, apenas sendo, e não no contrário. E é também a esses que é prometida uma vida de qualidade e realização plena - não seria isso a felicidade? Que paradoxo!!!
Certa vez, Madre Teresa de Calcutá afirmou ao comentar sobre alguém: "Este é tão pobre que só pode dar o que tem: dinheiro!", porque desprovido do padrão mais humanitário da vida: amar. Nós somos os únicos seres vivos que temos no outro o pleno sentido da existência. No outro está a verdadeira humanidade.
Vivemos uma ditadura da felicidade, uma imposição de que devemos estar buscando constantemente esse instante, tornando-nos o alvo primeiro e último de  tudo, mas esse, ao invés de nos proporcionar um estado pleno de realização interior, nos leva a uma procura do sempre inatingível porque passageiríssimo, daí precisarmos de um novo instante e mais outro e mais outro... Porém, essa insaciabilidade apenas gira uma roda de busca desenfreada, ao mesmo tempo em que enriquece àqueles que vivem do usufruto de seus idílicos produtos, tão necessitados quanto nós.
Se ser feliz é "ter" ou "estar" ininterruptamente, a vida vale somente o momento que se vive. Somos o centro de tudo. Ao consumo!
De fato, "Deixe fulano(a) ser feliz", até que venha o próximo segundo. Pobre de nós!

Um abraço.

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