
Aos poucos fui crescendo e dissociando os fatos da vida à existência do Sagrado. Já não podia acreditar porque outros acreditavam. Fiz minha busca pessoal. Peregrinei entre muitas religiões e algo me despertou a atenção: como pretensa re-ligação ao Sobrenatural, a religião se perde nas manifestações que em nada representam essa tentativa.
Um dia, enamorei-me do Islamismo. Sua valorização cultural é primaz. A forma como surgiu para unificação de um povo merece elogios. Mas, não entendi uma Jirad, o terrorismo, o massacre contra aqueles que não são seus pares; a supervalorização masculina em detrimento das mulheres. E tudo sob a aprovação de Alá.
Em outro momento o budismo também me encantou. Os princípios ensinados pelos monges são belíssimos. Seu silêncio, seus cantos monossilábicos... O caminho do meio como o mais harmonioso e equilibrado e que deve sempre ser buscado. Mas não entendi a fuga da realidade na meditação em mosteiros tão longínquos. O carma que castiga àquele que nem sabe pelo que está expiando; e uma divindade impessoal e que não ouve aos meus apelos se eu não fizer por onde.
Também já me fascinei com o hinduísmo. Suas cores, suas nuanças, seus aromas e todo o seu misticismo atraem a todo aquele que se inebria com os elementos que retratem o sobrenatural. Mas não entendi os seus milhões de deuses; a preservação de um grupo de pessoas “especiais” na mesma medida do desprezo a outros; e a convivência da bomba atômica e de tantos nobéis com a fome e a extrema pobreza.
Ouvi ainda falar das manifestações afro-religiosas com seus rituais e danças, mas não entendi sua interação com o mal, seus sacrifícios e suas oblações; ou ainda do Espiritismo, com sua ênfase a boas obras, mas me recusei a entender as inúmeras reencarnações pra um dia se chegar ao Bem supremo.
Por último, busquei a religião Cristã. Um deus barbudo, de vestes brancas, que me leva para o céu se eu for boazinha a mim foi exibido. Um deus de recompensa pelos bons atos; de rezas e de promessas; de dias santos e de esmolas. Mas, não entendi as cruzadas; o fundamentalismo que discrimina e mata; a inquisição que mandou tantos à fogueira; a intolerância dogmática aos que estão marginalizados; o legalismo que separa e oblitera a comunhão. Não entendi também a crueldade das nações ricas ditas cristãs na indiferença as mais pobres e na preservação conveniente do abismo social que há entre elas. Tudo isso em nome desse deus.
Assim, desisti da religião.
Hoje sei que mais que religião o mundo precisa de amor. Um amor que faça a diferença; que se escandalize com a injustiça; que escute o clamor do desvalido; que lute a causa do aflito; que una os diferentes; que supere a distância dos credos; que transforme o substantivo num verbo e que ande de mãos dadas com a paz.
Hoje não quero religião. Conheci alguém que viveu assim, conheci Jesus. Quero, então, fazer da atitude dEle, que deu a vida por mim, a razão pra que eu continue a viver. Fiz minha opção: sou “atéia das religiões”; mas também uma amante da vida e uma sonhadora de um mundo que pode ser bem melhor.