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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Esperança*

Acho que hoje descobri o que é esperança: é aquela pontinha de alguma coisa que teima em continuar existindo, mesmo quando você tem mais do que motivos para não acreditar mais. Você pode até chamar de ilusão ou de ingenuidade, mas quero me agarrar a esse fiozinho de expectativa boa – nem sabia que tinha mais – que ainda há dentro de mim, posso? Tudo isso porque ouvi no discurso de nossa recente empossada presidenta da República que os professores devem ser vistos como a autoridade na sala de aula, numa leve alusão que precisamos ser mais respeitados.
Não me prendo ao termo autoridade em si. Não é isso que realmente interessa, mas é que talvez você não tenha ideia de como é se sentir há décadas como o principal (ou seria o único?) culpado pelo descalabro generalizado que há na educação. Se o aluno não é aprovado; se não aprende; se não frequenta as aulas; se desiste antes de terminar o ano; se não consegue discernir o que lê... enfim, tudo é culpa daquele que sai de casa todos os dias só pensando em fazer nada quando chega em sala de aula (segundo o que pensam), e senta-se atrás de um confortável birô, na frente de um quadro multimídia, em uma sala de acústica perfeita, olhando o relógio a cada cinco minutos, enquanto uma turma superinteressada impacienta-se ao não aprender nada naquele dia.
Talvez o Brasil esteja chegando ao ponto de discutir essa relação de forma mais madura. Talvez esteja pronto para parar de procurar culpados e encontrar o lugar que cada pessoa ocupa nessa triste realidade educacional
Não se faz educação só em sala de aula, tampouco apenas com o professor. A sociedade precisa entender que nesse processo há participação plena de todos: desde os exemplos dados pelas autoridades à relação que acontece na família de cada um. Será que é isso que está sendo apontado por nossa líder?
Aquece-me o ânimo pensar que alguma coisa ainda possa acontecer. Mais do que aumento de índices para inglês ver (ou seria búlgaro?), exulto em ainda ter a possibilidade de ver a educação sendo levada a sério.
Não seria a primeira vez que esse tipo de coisa acontece comigo. De vez em quando me vejo querendo crer em algumas coisas atípicas da nossa realidade (loucura ou utopia?), mas o simples fato de ter descoberto isso em mim me fez bem. Pelo menos me fez perceber que ainda creio em milagres.




Ana Valéria Moraes

Texto publicado no Jornal O Povo
em 20 de agosto de 2011
http://www.opovo.com.br/app/opovo/jornaldoleitor/2011/08/20/noticiajornaldoleitorjornal,2280954/esperanca.shtml
em 02 de abril de 2011
http://www.opovo.com.br/app/opovo/jornaldoleitor/2011/04/02/noticiajornaldoleitorjornal,2119204/esperanca.shtml

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