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sábado, 25 de junho de 2011

A História de Cabacinha*


Cabacinha era um homem pra lá de valente! Sua alcunha surgira de uma história ocorrida quando ainda era vaqueiro. Segundo ele, um dia, depois de vagar por horas conduzindo umas vacas, se valeu de uma cabaça que encontrou e fez dela uma espécie de chapéu, protegendo sua cabeça de ralos cabelos. De lá pra cá nunca mais a tirara. – Era mais confortável – afirmava, mostrando o formato arredondado do artifício, o que lhe valera não apenas o apelido, mas a desconfiança de que não tinha o juízo muito bom.
Fazia questão de manter a sua fama, e aqueles que ainda não lhe tinham percebido a fraqueza das ideias, corriam com medo, preferindo não ter que conferir a veracidade de suas palavras.
De altura mediana e porte franzino, só a sua presença não assustava ninguém. Andava sempre com uma roupa puída, alpercatas bem surradas, faca na cintura e um cigarro de palha úmido que teimava em ficar apagado. Sua idade ninguém sabia, nem ele, mas certamente beirava os quarenta.
Fora assim até que um dia, na sua cidade, chegou alguém que parecia ter menos zelo com a própria vida que ele e ainda anunciava ter coragem superior.
Com altura semelhante a de seu adversário; Chico Peão, que acabara de chegar, tinha cabelos curtos e em desalinho; corpo mais roliço; roupa gasta e peito aberto até quase o umbigo com uma medalha pendurada ao pescoço; uma peixeira sob o cordão que lhe segurava as calças e chinelo de dedo de couro fedido. Um quarentão.
Dizia e acontecia. Limpava as unhas com canivete; aparava o vasto bigode com faca; apagava o cigarro na mão..., construindo a figura do homem que poderia desafiar o valentão dali. Mas, o tempo passava e nada disso acontecia, atiçando a todos para saber quem permaneceria com a fama.
Um dia, chegou o momento esperado daqueles dois se cruzarem. Até ali, nenhum deles ignorava a existência do outro, no entanto, mantinham-se à distância, para manterem suas reputações a salvo.
O mercado já estava aberto há tempos naquela manhã e com um movimento intenso. Os boxes estavam lotados de frutas, verduras, cereais, carne seca, rapadura e algumas novidades vindas da capital. O cheiro de carne cozida misturado com o odor de frutas muito maduras passava a ideia de fartura, coisa tão preciosa ao sertanejo.
Cabacinha acordara cedo e tivera a ideia de ir lá para ver a agitação. Com a mesma motivação, seu adversário foi também. Não passou muito tempo e os dois se viram, mas se ignoraram, contudo, logo chamaram atenção dos que passavam, exigindo uma reação. Palavrões e ameaças foi o que o prevaleceu sem que nenhum dos dois tomasse a iniciativa do combate. Vendo a população que nada acontecia, alguém sugeriu um desafio: aquele que conseguisse segurar o touro mais valente das redondezas pelos chifres era o mais macho.
No dia marcado toda a população estava no lugar combinado. A ansiedade tinha tomado conta de todos, mas, eles não compareceram, nem Cabacinha, nem Chico Peão, só o touro.
Hoje, muito tempo depois, se fala de um casal de velhos de uma cidadezinha distante, que vive junto, como marido e mulher, e que um deles usa um apetrecho estranho na cabeça.

Ana Valéria

*Conto meu publicado no Jornal O Povo (25/06/11)

2 comentários:

ciclamen artes e mimos disse...

OI Ana!
Fazia tempo q não dava um oi p/ sua irmã,q foi uma das primeiras a seguir.
Hoje qdo ia deixar um comentário,vi a propaganda do seu.E entrei e amei.
Já achava sua irmã linda e agora descobri q ela tem uma irmã tb linda,e que escreve bem!
Sou mais de trab.manuais q palavras,amei seu blog,e faço das suas palavras as minhas.
Convertida a 10a.frequentando uma Igreja
do Senhor(Ig.do Nazareno Central de Campinas),sempre falo p/ irmãs q se nosso foco qdo entramos no Templo não for o Senhor,agente espirra logo.
Pq sempre existe preconceito,Deus ama o pecador e não o pecado;as divergencias,
e creio q tb a personalidade q vai a frente de nós qdo entramos no Templo(cada um c/ a sua)mas o q tem q ir a frente é o Amor.
Não é fácil conviver nem c/ irmãos e até
c/ o marido pq se nós não termos o caráter de Cristo é muito dificil tolerar as pessoas e não pecar.
Depois verei a entrevista do Pr.Ricardo.
Amo conhecer pessoas de outras culturas,
estou conhecendo melhor o nordestinos pq
minha filha(que acabou de embarcar p/ Recife hoje cedo)namora um rapaz abençoado de Jaboatão dos Guararapes.
Uma família Presbiterana uma benção.
Conheci cultura,termos hábitos alimentares,como o cuzcuz matinal,q amei!
Desculpa da carta ,amei seu blob já estou te seguindo.
Que o Senhor derrame bençãos sem medidas sobre sua vida,família e lar!
Deus te abençoe
bjs
Silvia Regina

Só pensando um pouco disse...

Obrigada por suas impressões e por compartilhar um pouco das suas vivências na igreja. Um grande abraço.